A África Está Destinada ao Subdesenvolvimento?

[Quantas razões ou justificativas já ouvimos para o subdesenvolvimento da África (e de outras regiões da periferia do capitalismo, incluindo o nosso Brasil, claro)? Clima, características culturais (corrupção, preguiça, falta de cultura de poupança, falta de empreendedorismo, etc), limites geográficos, excesso de recursos naturais, falta de homogeneidade da população.. Todo mundo parece ter as suas explicações favoritas. Quanto de verdade há nelas? Será que os países que hoje são ricos não tiveram também a sua cota de problemas estruturais? Será que a África (e as muitas outras regiões subdesenvolvidas e dependentes) está condenada a permanecer nessas condições?]

por Ha-Joon Chang

freddy-sam-mural

Fonte: Freddy Sam Flickr

 O que eles dizem

A África está destinada ao subdesenvolvimento. Ela tem um clima desfavorável, o que acarreta graves problemas de doenças tropicais. A sua situação geográfica é péssima; muitos dos seus países não têm acesso ao mar, e são cercados por outros cujos pequenos mercados oferecem limitadas oportunidades de exportação e cujos conflitos violentos se espalham pelas nações vizinhas. O continente tem um excesso de recursos naturais, o que fez com que o seu povo se tornasse preguiçoso, corrupto e predisposto a conflitos. As nações africanas são etnicamente divididas, o que as torna difíceis de administrar e mais propensas a experimentar conflitos violentos. As suas instituições não protegem adequadamente os investidores. A sua cultura é ruim; as pessoas não trabalham muito, não poupam e não são capazes de cooperar umas com as outras. Todas essas desvantagens estruturais explicam por que, ao contrário de outras regiões do mundo, o continente deixou de crescer mesmo depois de ter implementado uma significativa liberalização do mercado a partir da década de 1980. A África só conseguirá avançar com o apoio da ajuda externa.

O que eles não dizem

A África nem sempre esteve estagnada. Nas décadas de 1960 e 1970, quando todos os supostos impedimentos estruturais ao crescimento estavam presentes e eram, com frequência, mais restritivos, ela na realidade apresentou um desempenho de crescimento satisfatório. Além disso, todas as desvantagens estruturais que supostamente refreiam a África estiveram presentes na maioria dos países ricos de hoje — um clima desfavorável (ártico e tropical), a falta de acesso ao mar, recursos naturais abundantes, divisões étnicas, instituições deficientes e uma cultura ruim. Essas condições estruturais só parecem atuar como impedimentos ao desenvolvimento da África porque os países desse continente ainda não possuem as tecnologias, instituições e habilidades organizacionais necessárias para lidar com as suas consequências adversas. A verdadeira causa da estagnação africana nas últimas três décadas são as políticas de livre mercado que o continente foi obrigado a implementar durante esse período. Ao contrário da história e da geografia, as políticas podem ser modificadas. A África não está destinada ao subdesenvolvimento.

O mundo segundo Sarah Palin… ou terá sido The Rescuers? [Bernardo e Bianca?][1]

Dizem que Sarah Palin, a candidata republicana à vice-presidência nas eleições americanas de 2008, achava que a África era um país e não um continente. Muitas pessoas se perguntavam de onde ela teria tirado essa ideia, mas eu acho que sei a resposta. Foi do desenho animado de 1977 da Disney, The Rescuers. [2]

The Rescuers gira em torno de um grupo de camundongos chamado Rescue Aid Society [3] que percorre o mundo, ajudando animais em dificuldades. Em uma das cenas, tem lugar um congresso internacional da sociedade, com delegados camundongos dos mais diversos países vestindo os seus trajes tradicionais e com o sotaque apropriado (quando falavam). O camundongo francês usa uma boina, a alemã traja um melancólico vestido azul e o camundongo turco tem um fez na cabeça. Há ainda o camundongo com chapéu de pele e barba representando a Letônia e uma “camundonga” representando, bem, a África.

Talvez a Disney não acreditasse literalmente que a África fosse um país, mas atribuir um delegado para cada país com 2,2 milhões de habitantes e um único delegado para um continente com mais de 900 milhões de habitantes e quase sessenta países (o número exato depende de você reconhecer entidades como Somalilândia e Saara Ocidental como países) nos diz alguma coisa a respeito da visão da Disney sobre a África. Assim como a Disney, muitas pessoas veem a África como uma massa amorfa de países que sofrem com o mesmo clima quente, doenças tropicais, a pobreza opressiva, guerras civis e a corrupção.

Embora devamos ter o cuidado de não amontoar todos os países africanos em um único grupo, não há como negar que a maioria deles é muito pobre, especialmente se restringirmos o nosso interesse à África subsaariana (ou África “negra”), que é realmente o que quase todo mundo quer dizer quando se refere à África. De acordo com o Banco Mundial, a renda média anual per capita da África subsaariana foi estimada em 952 dólares em 2007. Esse valor é um pouco mais elevado do que os 880 dólares do Sul Asiático (Afeganistão, Bangladesh, Butão, Índia, Maldivas, Nepal, Paquistão e Sri Lanka), porém mais baixo do que o de qualquer outra região do mundo.

Além disso, muitas pessoas falam da “tragédia de crescimento” da África. Ao contrário do Sul Asiático, onde as taxas de crescimento se aceleraram a partir da década de 1980, a África parece estar sofrendo de uma “incapacidade crônica de crescimento econômico”. [4] A renda per capita atual da África subsaariana é mais ou menos a mesma que era em 1980. Ainda mais preocupante é o fato que essa falta de crescimento não parece ser causada principalmente por escolhas de políticas equivocadas (afinal de contas, como muitos outros países em desenvolvimento, os países da região implementaram reformas de livre mercado a partir da década de 1980 [5]) e sim pelas desvantagens transmitidas a eles pela natureza e pela história, sendo portanto extremamente difícil, ou até mesmo impossível, modificá-las.

A lista de supostas desvantagens “estruturais” que estão refreando a África é impressionante.

Primeiro, temos todas as condições definidas pela natureza: o clima, a situação geográfica e os recursos naturais. Por estar perto demais do Equador, o continente tem uma quantidade excessiva de doenças tropicais, como a malária, o que reduz a produtividade dos trabalhadores e aumenta os custos dos cuidados com a saúde. Por não ter acesso ao mar, muitos dos países africanos têm dificuldade em se integrar na economia mundial. Eles estão em uma “área desfavorável” no sentido de que estão cercados por outros países pobres que têm mercados pequenos (o que limita as suas oportunidades de comércio) e, frequentemente, conflitos violentos (que não raro se espalham para os países vizinhos). Os países africanos supostamente também são “amaldiçoados” pelos seus abundantes recursos naturais. Dizem que a abundância de recursos torna os africanos preguiçosos — porque eles “podem se deitar debaixo de um coqueiro e esperar que o coco caia”, como diz uma expressão popular dessa ideia (se bem que aqueles que dizem isso obviamente nunca fizeram essa tentativa, porque correriam o risco de ter a cabeça esmagada). [Aqui a semelhança com os discursos sobre o Brasil e os brasileiros não é mera coincidência!] A riqueza oriunda de recursos não ganhos em troca de trabalho também supostamente estimula a corrupção e os conflitos violentos em torno das benesses. O sucesso econômico de países pobres em recursos do Leste Asiático, como o Japão e a Coreia, é frequentemente citado como um caso de “maldição de recursos reversa”.

Além da natureza, a história da África também está supostamente refreando o continente. As nações africanas são etnicamente heterogêneas demais, o que faz com que as pessoas desconfiem umas das outras, tornando as transações de mercado dispendiosas. Argumenta-se que a diversidade étnica pode estimular conflitos violentos, especialmente se houver alguns grupos igualmente fortes (em vez de muitos grupos pequenos, que são mais difíceis de organizar). Acredita-se que a história do colonialismo tenha produzido instituições de baixa qualidade na maioria dos países africanos, já que os colonizadores não queriam se fixar em países com um excesso de doenças tropicais (de modo que existe uma interação entre o clima e as instituições) e portanto instalaram apenas as instituições mínimas necessárias para a extração de recursos, em vez daquelas fundamentais para o desenvolvimento da economia local. Algumas pessoas até mesmo especulam que a cultura africana é desfavorável para o desenvolvimento econômico — os africanos não se esforçam no trabalho, não fazem planos para o futuro e não são capazes de cooperar uns com os outros.[6] [novamente, não soa familiar?]

Considerando-se tudo isso, as perspectivas futuras da África parecem sombrias. No caso de algumas dessas desvantagens estruturais, qualquer solução parece inalcançável e inaceitável. Se não ter acesso ao mar, estar perto demais do Equador e estar situada em uma região desfavorável são coisas que estão refreando Uganda, o que a nação deveria fazer? Deslocar fisicamente um país não é uma opção, de modo que a única resposta exequível é o colonialismo, ou seja, Uganda deveria invadir, digamos, a Noruega, e transferir todos os noruegueses para Uganda. Se ter um excesso de grupos étnicos é nocivo para o desenvolvimento, deveria a Tanzânia, que tem uma das maiores diversidades étnicas do mundo, favorecer a prática da purificação étnica? Se ter um excesso de recursos naturais tolhe o crescimento, deveria a República Democrática do Congo tentar vender as partes do seu território com depósitos minerais para, digamos, Taiwan para poder passar adiante a maldição para outro país? O que deveria Moçambique fazer se a sua história colonial deixou o país com más instituições? Inventar uma máquina do tempo e corrigir essa história? Se Camarões tem uma cultura desfavorável ao desenvolvimento econômico, deveria a nação iniciar um programa de lavagem cerebral em massa ou colocar as pessoas em um campo de reeducação, como o Khmer Vermelho fez no Camboja?

Todas essas conclusões de políticas ou são fisicamente impossíveis (deslocar um país, inventar uma máquina do tempo) ou são política e moralmente inaceitáveis (invasão de outro país, purificação étnica, campos de reeducação). Por conseguinte, aqueles que acreditam no poder dessas desvantagens estruturais mas consideram essas soluções extremas inaceitáveis argumentam que os países africanos deveriam ser colocados em uma espécie de “auxílio-invalidez” permanente por intermédio da ajuda externa e de um auxílio adicional com o comércio internacional (p. ex., os países ricos reduziriam a sua proteção agrícola somente para os países africanos — e outros países semelhantemente pobres e estruturalmente desfavorecidos).

Mas existe outra maneira de a África ter um desenvolvimento futuro que não seja aceitar o seu destino ou se apoiar na ajuda externa? Os países africanos não têm nenhuma esperança de ser realmente independentes?

Uma tragédia de crescimento africana?

Uma pergunta que precisamos fazer antes de tentar explicar a tragédia do crescimento da África e examinar possíveis maneiras de superá-la é se tal tragédia realmente existe. E a resposta é “não”. A falta de crescimento na região não tem sido crônica.

Durante os anos 1960 e 1970, a renda per capita na África subsaariana cresceu a uma taxa respeitável. Ela girou em torno de 1,6% e não se aproximou nem um pouco da taxa de crescimento “milagrosa” do Leste Asiático (5 a 6%) ou mesmo da taxa da América Latina (por volta de 3%) nesse período. No entanto, não é uma taxa de crescimento a ser desprezada. Ela se compara favoravelmente com as taxas de 1 a 1,5% alcançadas pelos países ricos de hoje durante a sua “Revolução” Industrial (aproximadamente de 1820 a 1913).

O fato de a África ter crescido a uma taxa respeitável antes da década de 1980 sugere que os fatores “estruturais” não podem ser a principal explicação da falta de crescimento da região (a qual, na realidade, é recente). Se fossem, o crescimento da África nunca deveria ter existido. Não se trata de os países africanos terem sido repentinamente deslocados para os trópicos ou alguma atividade sísmica ter retirado de repente o acesso ao mar de alguns deles. Se os fatores estruturais eram tão cruciais, o crescimento econômico africano deveria ter se acelerado com o tempo, já que pelo menos alguns desses fatores teriam sido atenuados ou eliminados. As instituições de má qualidade deixadas pelos colonizadores, por exemplo, poderiam ter sido abandonadas ou aprimoradas. Até mesmo a diversidade étnica poderia ter sido reduzida por meio da educação compulsória, do serviço militar e dos meios de comunicação de massa, do mesmo modo como a França conseguiu transformar “camponeses em franceses”, como diz o título de um livro clássico de 1976 de autoria do historiador americano Eugen Weber. [7] No entanto, não foi isso que aconteceu; o crescimento africano se contraiu de repente a partir dos anos 1980.

Portanto, se os fatores estruturais sempre estiveram presentes e se a influência deles teria, no mínimo, diminuído com o tempo, esses fatores não podem explicar por que a África estava crescendo a uma taxa satisfatória nas décadas de 1960 e 1970 e, de repente, parou de crescer. O colapso repentino do crescimento precisa ser explicado por alguma coisa que aconteceu em torno de 1980. O principal suspeito é a mudança radical na orientação da formulação de políticas que teve lugar por volta dessa época.

Desde o final dos anos 1970 (começando pelo Senegal em 1979), os países da África subsaariana foram obrigados a adotar políticas de livre mercado e de livre comércio devido às condições impostas pelos chamados Programas de Ajustamento Estrutural (PAEs) do Banco Mundial e do FMI (e pelos países ricos que, em última análise, controlam essas entidades). [8] Ao contrário do que diz a sabedoria convencional, essas políticas não são vantajosas para o desenvolvimento econômico. [9] Por expor de repente produtores imaturos à concorrência internacional, essas políticas resultaram no colapso dos pequenos setores industriais que esses países haviam conseguido formar durante os anos 1960 e 1970. Portanto, tendo sido forçados a retroceder e se apoiar novamente na exportação de commodities primárias, como o cacau, o café e o cobre, os países africanos continuaram a sofrer com as violentas flutuações de preços e tecnologias de produção estagnadas que caracterizam a maioria dessas commodities. Além disso, quando os PAEs exigiram um rápido aumento das exportações, os países africanos, com recursos tecnológicos somente em uma gama limitada de atividades, acabaram tentando exportar coisas semelhantes — fossem eles produtos tradicionais como o café e o cacau ou produtos novos como flores de corte. O resultado foi com frequência um colapso de preços nessas commodities devido a um grande aumento da oferta, o que às vezes significou que esses países estavam exportando uma quantidade maior porém tendo uma receita menor. A pressão sobre os governos para que equilibrassem os seus orçamentos resultou em cortes nas despesas cujo impacto demora a aparecer, como no caso da infraestrutura. [10] Com o tempo, contudo, a qualidade deteriorante da infraestrutura colocou os produtores africanos em uma situação ainda mais desvantajosa, fazendo com que as suas “desvantagens geográficas” assomassem ainda mais.

O resultado dos PAEs — e das suas diversas “encarnações” posteriores, entre elas os atuais DERPs (Documentos Estratégicos de Redução da Pobreza) — foi uma economia estagnada que deixou de crescer (do ponto de vista per capita [por pessoa]) durante três décadas. Durante os anos 1980 e 1990, a renda per capita na África subsaariana caiu a uma taxa de 0,7% ao ano. A região finalmente começou a crescer na década de 2000, mas a retração das duas décadas precedentes significou que a taxa média de crescimento da renda per capita na África subsaariana entre 1980 e 2009 foi de 0,2%. Portanto, depois de passar quase trinta anos usando políticas “melhores” (ou seja, de livre-mercado [11]), a sua renda per capita encontra-se basicamente no mesmo nível que estava em 1980.

Por conseguinte, os chamados fatores estruturais são na verdade bodes expiatórios apresentados pelos economistas que defendem o livre-mercado. Ao constatar que as suas políticas prediletas não estavam produzindo bons resultados, eles tinham que encontrar outras explicações para a estagnação (ou retrocesso, se não contarmos os grandes aumentos dos últimos anos causados pelo boom das commodities, [12] o qual chegou ao fim). Era inconcebível para eles que essas políticas “corretas” pudessem fracassar. O fato de só os fatores estruturais serem citados como a principal explicação para o sofrível desempenho econômico da África depois que o crescimento se evaporou no início da década de 1980 não é nenhuma coincidência.

A África pode alterar a sua geografia e a sua história?

Ressaltar que as variáveis estruturais anteriormente mencionadas foram invocadas na tentativa de evitar um constrangimento para os economistas que defendem o livre-mercado não significa que elas sejam irrelevantes. Muitas das teorias apresentadas a respeito de como uma variável estrutural específica afeta o resultado econômico fazem sentido. O clima desfavorável pode tolher o desenvolvimento. Estar cercado por países pobres infestados de conflitos limita as oportunidades de exportação e torna mais provável o extravasamento de conflitos através das fronteiras. A diversidade étnica ou a abundância de recursos podem gerar uma dinâmica política desfavorável. No entanto, essas consequências não são inevitáveis.

Para começar, esses fatores estruturais podem se desenrolar de muitas maneiras diferentes. Os recursos naturais abundantes, por exemplo, podem criar resultados desagradáveis, mas também podem promover o desenvolvimento. Para início de conversa, se esse não fosse o caso, não consideraríamos o mau desempenho de países ricos em recursos como desfavorável. Os recursos naturais possibilitam que os países pobres obtenham as moedas estrangeiras com as quais podem comprar tecnologias avançadas. Dizer que esses recursos são uma maldição é como dizer que todas as crianças nascidas em uma família rica serão um fracasso na vida porque ficarão estragadas por causa da riqueza que herdarem. Algumas fazem exatamente isso por essa razão, mas muitas outras tiram proveito da sua herança e alcançam um sucesso ainda maior do que os seus pais. O fato de um fator ser estrutural (ou seja, fornecido pela natureza ou pela história) não significa que o resultado da sua influência seja predeterminado.

Na realidade, o fato de todas essas desvantagens estruturais não serem intransponíveis é demonstrado pelo fato que quase todos os países ricos de hoje se desenvolveram apesar de sofrer de desvantagens semelhantes.[13]

Vamos examinar primeiro o caso do clima. O clima tropical supostamente tolhe o crescimento econômico por criar um ônus para a saúde devido a doenças tropicais, especialmente a malária. Esse é um problema horrível, porém contornável. Muitos dos países ricos de hoje eram atingidos pela malária e outras doenças tropicais, pelo menos durante o verão; não estou falando apenas de Cingapura, que está situada no meio dos trópicos, mas também do sul da Itália, do sul dos Estados Unidos, da Coreia do Sul e do Japão. Essas doenças não são mais muito importantes porque esses países têm melhores condições sanitárias (o que reduziu enormemente a sua incidência) e melhores instalações médicas, graças ao desenvolvimento econômico. Uma crítica mais séria do argumento do clima é que os climas frígidos e árticos, que afetam vários dos países ricos, como a Finlândia, a Suécia, a Noruega, o Canadá e parte dos Estados Unidos, impõem fardos economicamente tão onerosos quanto os climas tropicais; as máquinas enguiçam, o custo do combustível dispara e o transporte é interrompido pela neve e pelo gelo. Não existe nenhuma razão a priori para acreditarmos que o tempo frio seja melhor do que o quente para o desenvolvimento econômico. [14] O clima frio não refreia esses países porque eles têm o dinheiro necessário para lidar com ele (o mesmo pode ser dito com relação ao clima tropical de Cingapura). Portanto, atribuir a culpa do subdesenvolvimento da África ao clima é confundir a causa do subdesenvolvimento com os seus sintomas — o clima desfavorável não causa o subdesenvolvimento; a incapacidade de um país de superar o seu clima desfavorável é meramente um sintoma de subdesenvolvimento.

No que diz respeito à situação geográfica, a falta de acesso ao mar de muitos países africanos têm sido bastante enfatizada. Mas e a Suíça e a Áustria? São duas das economias mais ricas do mundo, e não têm acesso ao mar. O leitor poderá responder dizendo que esses países puderam se desenvolver porque tinham um bom transporte fluvial, mas muitos países africanos sem acesso ao mar estão potencialmente na mesma posição: p. ex., Burkina Faso (a antiga República do Alto Volta), Mali e Níger (a República do Níger), Zimbábue (o Limpopo) e Zâmbia (o Zambezi). Portanto, o problema é a ausência de investimentos no sistema de transporte fluvial, e não a situação geográfica em si. Além disso, devido aos mares congelados no inverno, os países escandinavos ficavam efetivamente sem acesso ao mar durante seis meses, até que desenvolveram o navio quebra-gelo no final do século XIX. O efeito da vizinhança desfavorável pode de fato existir, mas ele não precisa ser limitante; basta contemplarmos o rápido crescimento recente da Índia, que está situada na região mais pobre do mundo (mais pobre do que a África subsaariana, mencionada anteriormente), que também tem a sua parcela de conflitos (a longa história dos conflitos militares entre a Índia e o Paquistão, as guerrilhas dos maoístas naxalitas na Índia e a guerra civil tâmil-cingalesa no Sri Lanka.)

Muitas pessoas falam da maldição dos recursos, mas o desenvolvimento de países como os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália, que são muito mais bem providos de recursos naturais do que todos os países africanos, com as possíveis exceções da África do Sul e da RDC (República Democrática do Congo), demonstra que a abundância de recursos pode ser uma bênção. Na realidade, a maioria dos países africanos não é tão bem provida de recursos naturais; menos de doze países africanos descobriram até agora quaisquer depósitos minerais importantes. [15] Quase todos os países africanos podem ser dotados com recursos naturais em termos relativos, mas isso é apenas porque eles têm muito poucos recursos fabricados pelo homem, como máquinas, infraestrutura e mão de obra especializada. Além disso, no final do século XIX e início do século XX, as regiões que mais cresceram no mundo eram ricas em recursos como a América do Norte, a América Latina e a Escandinávia, o que leva a crer que a maldição dos recursos nem sempre existiu. [16]

As divisões étnicas podem tolher o crescimento de várias maneiras, mas a sua influência não deve ser exagerada. A diversidade étnica também é a norma em outros lugares. Mesmo sem considerar a diversidade étnica em sociedades baseadas na imigração como os Estados Unidos, o Canadá e a Austrália, muitos dos países europeus atualmente ricos sofreram separações linguísticas, religiosas e ideológicas — especialmente de “grau médio” (alguns grupos, não numerosos), as quais, segundo se acredita, são extremamente conducentes a violentos conflitos. A Bélgica tem dois grupos étnicos (e um pouco mais, se incluirmos a minúscula minoria falante do alemão). A Suíça tem quatro idiomas e duas religiões, e já foi palco de várias guerras civis baseadas na religião. A Espanha tem graves problemas de minorias com os catalães e os bascos, que até mesmo envolveram o terrorismo. Devido ao fato de ter governado a Finlândia durante 560 anos (de 1249 a 1809, quando ela foi cedida à Rússia), a Suécia possui uma significativa minoria finlandesa (que monta a cerca de 5% da população) e a Finlândia tem uma população sueca de uma escala semelhante. E assim por diante.

Até mesmo os países do Leste Asiático que supostamente se beneficiaram particularmente da sua homogeneidade étnica têm sérios problemas com divisões internas. Você talvez pense que Taiwan é etnicamente homogênea já que os seus cidadãos são todos “chineses”, mas a população consiste de dois (ou quatro, se fizermos uma divisão mais refinada) grupos linguísticos (os “habitantes do continente” versus os taiwaneses) que se hostilizam mutuamente. O Japão apresenta sérios problemas de minorias com os coreanos, os okinawanos, os ainus e os burakumins. A Coreia do Sul talvez seja um dos países mais homogêneos do mundo do ponto de vista etnolinguístico, mas isso não impediu os meus compatriotas de odiar uns aos outros. Por exemplo, há duas regiões na Coreia do Sul que particularmente se odeiam (a sudeste e a sudoeste), a ponto de algumas pessoas dessas regiões não permitirem que os seus filhos se casem com alguém “do outro lugar”. Curiosamente, Ruanda é quase tão homogênea do ponto de vista etnolinguístico quanto a Coreia, mas isso não impediu que os Hutus, que eram maioria, promovessem a purificação étnica da minoria anteriormente dominante, os Tutsis — exemplo que prova que o “caráter étnico” não é uma estrutura natural, e sim política. Em outras palavras, os países ricos não sofrem com a heterogeneidade étnica porque ela não existe, mas sim porque tiveram êxito ao construir a nação (o que, é importante observar, envolveu com frequência um processo desagradável e até mesmo violento).

As pessoas dizem que instituições de má qualidade estão refreando a África [e a América Latina, e o Oriente Médio, e o Sul da Ásia, etc.] (e de fato estão), mas quando os países ricos estavam em níveis de desenvolvimento material semelhantes aos encontrados hoje na África, o estado das suas instituições era bem pior. [17] Apesar disso, eles cresceram continuamente e alcançaram níveis elevados de desenvolvimento. Eles construíram as instituições de qualidade muito tempo depois do seu desenvolvimento econômico, ou pelo menos simultaneamente a ele. Isso mostra que a qualidade institucional é tanto um resultado quanto um fator causal do desenvolvimento econômico. Tendo isso em vista, as más instituições não podem ser a explicação da falta de crescimento da África.

As pessoas mencionam a “má” cultura da África, [18] mas foi argumentado que quase todos os países ricos de hoje tiveram culturas comparativamente ruins, como documentei no capítulo “Lazy Japanese and thieving Germans” [“Japoneses preguiçosos e alemães ladrões” – 19] no meu livro anterior Bad Samaritans. [“Maus Samaritanos”] Até o início do século XX, os australianos e americanos que iam ao Japão diziam que os japoneses eram preguiçosos. Até meados do século XIX, os ingleses que iam à Alemanha afirmavam que os alemães eram burros demais, individualistas demais e emocionais demais para desenvolver a sua economia (a Alemanha não estava unificada na época) — o exato oposto da imagem estereotípica que eles têm hoje dos alemães e exatamente o tipo de coisa que as pessoas dizem hoje a respeito dos africanos. A cultura japonesa e a alemã foram transformadas com o desenvolvimento econômico, à medida que as exigências de uma sociedade industrial altamente organizada fizeram com que as pessoas se comportassem de uma maneira mais disciplinada, calculista e cooperativa. Nesse sentido, a cultura é mais um resultado, do que uma causa, do desenvolvimento econômico. É errado colocar a culpa do subdesenvolvimento da África (ou de qualquer região ou país) na sua cultura.

Vemos portanto, que o que parecem ser impedimentos estruturais inalteráveis ao desenvolvimento econômico da África (aliás, também de outros lugares) são geralmente coisas que podem ser, e foram, superadas com tecnologias mais avançadas, habilidades organizacionais superiores e melhores instituições políticas. O fato de quase todos os países ricos ter sofrido (e em certa medida ainda sofrerem) dessas condições é uma prova indireta desse ponto. Além disso, apesar desses obstáculos (não raro de uma forma mais rigorosa), os países africanos não tiveram nenhum problema para crescer nas décadas de 1960 e 1970. A principal razão para a recente falta de crescimento da África reside na política — a saber, a política de livre comércio, de livre mercado que foi imposta ao continente pelo PAE. A natureza e a história não condenam um país a um futuro específico. Quando uma política está causando o problema, o futuro pode ser modificado com mais facilidade ainda. A verdadeira tragédia da África é o fato de termos deixado de enxergar isso, e não a sua falta de crescimento supostamente crônica.

“23 Coisas que nãos nos contaram sobre o Capitalismo”, Capítulo 11

Ha-Joon Chang, 2010 – tradução de Claudia Gerpe Duarte – Editora Pensamento-Cultrix


Notas

[1] O desenho animado em longa metragem foi exibido no Brasil com o título Bernardo e Bianca. (N. da trad.)

[2] No original seria algo como “Os Salvadores” – e no Brasil, como já indicado acima,  “Bernardo e Bianca”. [N.M.]

[3] Algo como “Sociedade de Ajuda ‘Resgate’”. [N.M.]

[4] P. Collier e J. Gunning, “Why has Africa grown slowly?” [“Por Que a África Tem Crescido Vagarosamente?”], Journal of Economic Perspectives, 1999, vol. 13, no 3, p. 4.

[5] Aqui é preciso conhecer o conceito de “Neoliberalismo”, que representa tanto a etapa atual do Capitalismo, a sua ideologia dominante atualmente (juntamente dos valores e formas de subjetividade que eles incentivam), sua força política e a história das suas “reformas” pelos governos ao redor do mundo. Ver “O Livre-Mercado Faz Países Pobres Ficarem Ricos?”, do próprio Ha-Joon Chang;  vale muito a pena ler a introdução de George Monbiot sobre o tema para o jornal The Guardian: ‘Neoliberalismo, a Ideologia na Raiz de Nossos Problemas’, além de ‘Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda’, de Robert Brenner. ‘Como Vai Acabar o Capitalismo?’, de Wolfgang Streeck faz uma análise do desmonte trazido pelo período neoliberal e defende que seu sucesso pode estar levando o Capitalismo global a uma ruptura, mesmo na ausência de uma alternativa global organizada. Em ‘Realismo Capitalista e a Exclusão do Futuro’ e ‘Como Matar Um Zumbi: Elaborando Estratégias Para o Fim do Neoliberalismo’, Mark Fisher comenta a perda do impulso ideológico à frente que marcou o domínio do Neoliberalismo em suas décadas de certezas absolutas (dos  anos 80 até a crise de 2008) e também analisa questões que os movimentos da Esquerda precisarão resolver para derrubá-lo de vez. Outros textos interessantíssimos sobre o neoliberalismo podem ser acessados aqui. [N.M.]

[6] Daniel Etounga-Manguelle, engenheiro e escritor camaronês, assinala o seguinte: “O africano, ancorado na sua cultura ancestral, está de tal modo convencido de que o passado só pode se repetir, que ele só se preocupa superficialmente com o futuro. Entretanto, sem uma percepção dinâmica do futuro, não há planejamento, previsão ou formação de um cenário; em outras palavras, não há nenhuma política para afetar o desenrolar dos acontecimentos” (p. 69). E então ele prossegue dizendo que “As sociedades africanas são como um time de futebol no qual, em decorrência de rivalidades pessoais e uma falta de espírito de equipe, um jogador deixa de passar a bola para outro com medo de que este último marque um gol” (p. 75). D. Etounga- Manguelle, “Does Africa need a cultural adjustment program?” [“A África Precisa de Um Programa de Ajuste Cultural?”] in L. Harrison e S. Huntington (orgs.), Culture Matters — How Values Shape Human Progress [“A Cultura Importa – Como os Valores Dão Forma Ao Progresso Humano”] (Basic Books, Nova York, 2000).

[7] Segundo Weber, em 1863, cerca de um quarto da população da França não falava francês. Nesse mesmo ano, 11% das crianças que frequentavam a escola com idades entre 7 e 13 anos não falavam nem um pouco de francês, enquanto outros 37% falavam ou compreendiam o idioma mas não sabiam escrevê-lo. E. Weber, Peasants into Frenchmen — The Modernisation of Rural France, 1870-1914 (Stanford University Press, Stanford, 1976), p. 67.

[8] Isso, óbviamente, foi parte da reorientação do capitalismo para seu modelo Neoliberal à partir daquele momento. Essas instituições (Banco Mundial e FMI) foram essenciais para forçar a adoção de “reformas” neoliberais nos países da periferia do capitalismo mundial (o famoso “terceiro mundo”). – novamente, ver os textos da [nota 5] [N.M.]

[9] ver Ver “O Livre-Mercado Faz Países Pobres Ficarem Ricos?” e “Existe Mesmo Algo Como Um “Livre-Mercado”?”, do próprio Ha-Joon Chang. [N.M.]

[10] Ver “O que é a austeridade? E por que os neoliberais a defendem?“, de Pedro Paulo Zaluth Bastos e “Os irresponsáveis no poder: desmontando o conto da dona de casa“, de Ladislau Dowbor. Para se aprofundar, vale a pena ler o relatório “Austeridade e Retrocesso” [N.M.]

[11] novamente, ver as notas [9] e [5] [N.M.]

[12] o “boom” (grande expansão) das “commodities” (mercadorias primárias de pouco valor agregado como grãos, cereais, minérios, carne, metais, petróleo, etc) foi um período durante a primeira década do século XXI em que a alta demanda (principalmente na China) por esses produtos puxou seus preços para altas históricas, possibilitando uma maré favorável para os países que mais dependem da sua exportação (e que, sem surpresa nenhuma, tendem a ser subdesenvolvidos – salvo algumas excessões). [N.M.]

[13] Ver H-J. Chang, “Under-explored treasure troves of development lessons — lessons from the histories of small rich European countries (SRECs)” [algo como “Trovas de Lições de Desenvolvimento Sobre Tesouros Sub-Explorados – Lições das Histórias de Pequenos Países Europeus Ricos”] em M. Kremer, P. van Lieshoust e R. Went (orgs.), “Doing Good or Doing Better — Development Policies in a Globalising World” [“Fazer Bem ou Fazer Melhor – Políticas de Desenvolvimento em um Mundo Globalizado”] (Amsterdam University Press, Amsterdã, 2009) e H-J. Chang, “Economic history of the developed world: Lessons for África” [“História Econômica do Mundo Desenvolvido: Lições Para a África”], palestra proferida no Eminent Speakers Programme of the African Development Bank, 26 de fevereiro de 2009.

[14] apesar de teses bizarras e anti-históricas nesse sentido se proliferarem em discursos de direita na internet. [N.M.]

[15] Ver H-J. Chang, “How important were the ‘initial conditions’ for economic development — East Asia vs. Sub-Saharan África” [“Quão Importantes Foram as ‘Condições Iniciais’ Para o Desenvolvimento Econômico – Leste da Ásia vs. África Subsaariana”] (cap. 4) em H-J. Chang, “The East Asian Development Experience: The Miracle, the Crisis, and the Future” [“A Experiência de Desenvolvimento do Leste Europeu: O Milagre, A Crise e o Futuro”] (Zed Press, Londres, 2006).

[16] fora que mesmo para defensores da tese da “maldição da abundância de recursos” deveria ser óbvio que essa maldição só pode acontecer por causa da desigualdade de poder entre os países, fazendo com que potências internacionais possam explorar ao seu bel prazer os recursos abundantes de uma nação sem gerar para ela um retorno significativo em riqueza, desenvolvimento e bem-estar para a nação menos desenvolvida. Na realidade, como bem sabemos no Brasil, (e como bem sabem por exemplo os países árabes e outros latino-americanos) os recursos abundantes tendem a trazer o poder das potências capitalistas, que influenciam com publicidade os meios de comunicação para disseminar formas de se ver o mundo favoráveis à sua dominação e que se associam com uma elite local (econômica e política) que não tem compromisso com o desenvolvimento do país, apenas com sua própria riqueza e poder (subordinado), constituindo uma mentalidade de elite colonial. Essa é uma das várias ironias do Capitalismo: em nenhum momento histórico anterior ao desenvolvimento do Capitalismo (e, consequentemente, da amplificação das desigualdades que dele se originou) uma abundância de recursos naturais seria visto por um povo como menos do que uma benção. Para mais detalhes sobre o Capitalismo e suas contradições, ver: Sobre Capitalismo – O Que é? Quais São Suas Características, Problemas e Limites?. [N.M.]

[17] Para a comparação da qualidade das instituições nos países ricos de hoje quando eles estavam em níveis semelhantes de desenvolvimento com os encontrados hoje nos países em desenvolvimento, ver H-J. Chang, “Kicking Away the Ladder” [“Chutando a Escada”] (Anthem Press, Londres, 2002), cap. 3.

[18] como não pensar aqui sobre o que se fala do brasileiro, do “jeitinho brasileiro“ e tantos outros discursos do tipo? [N.M.]

[19]  “Japoneses preguiçosos e alemães ladrões”. (N. da trad.)


Leituras Relacionadas

 

  • O Livre-Mercado Faz Países Pobres Ficarem Ricos? [Ha-Joon Chang] –  “Os supostos lares do livre comércio e do livre mercado ficaram ricos por meio da combinação do protecionismo, subsídios e outras políticas que hoje eles aconselham os países em desenvolvimento a não adotar. As políticas de livre mercado tornaram poucos países ricos até agora e poucos ficarão ricos por causa dela no futuro.”
  • Existe Mesmo Algo Como um Livre-Mercado? [Ha-Joon Chang] – Todo mercado tem algumas regras e limites que restringem a liberdade de escolha. O mercado só parece livre porque estamos tão condicionados a aceitar as suas restrições subjacentes que deixamos de percebê-las.
  • O Mercado é Mesmo Bom? [Luis Felipe Miguel] – Há um elemento comum, nas manifestações recentes da direita: o discurso de que o Estado deve recuar e o mercado deve regular uma porção maior das interações humanas. Se a lógica do mercado opera, dizem eles, no final das contas todos ganham. Será que é mesmo assim?
  • Uma Filosofia Para o Proprietariado [Rob Hunter] – O “Libertarianismo” não oferece solução alguma para a política plutocrática de hoje em dia – não passa de uma rejeição reacionária à luta política.
  • Neoliberalismo, A Ideologia na Raiz de Nossos Problemas [George Monbiot] – “Crise financeira, desastre ambiental e mesmo a ascensão de Donald Trump – o Neoliberalismo,  a ideologia dominante no ‘Ocidente’ desde os anos 80, desempenhou seu papel em todos eles. Como surgiu e foi adotado pelas elites a ponto de tornar-se invisível e difuso? Por que a Esquerda fracassou até agora em enfrentá-lo?”
  • Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda [Robert Brenner] – Na fase atual do neoliberalismo, o capitalismo não é mais capaz de garantir crescimento e desenvolvimento semelhantes aos estágios anteriores. Nem mesmo se mostra capaz de garantir condições de vida aos trabalhadores e, assim, assegurar seu apoio ao sistema – passando a depender cada vez mais do medo imposto sobre os mesmos sobre a perda de seus empregos, sobre o futuro, e sobre repressão – e despertando revolta de massa à Esquerda e à Direita. O que se segue é uma tentativa inicial e muito parcial de apresentar como entendemos o panorama político de hoje; uma série de suas características notáveis; as aberturas que se apresentam aos movimentos e à Esquerda; e os problemas que a Esquerda enfrenta.
  • Como Vai Acabar o Capitalismo? [Wolfgang Streeck] – “O epílogo de um sistema em desmantêlo crônico: A legitimidade da ‘democracia’ capitalista se baseava na premissa de que os Estados eram capazes de intervir nos mercados e corrigir seus resultados, em favor dos cidadãos; hoje, as dúvidas sobre a compatibilidade entre uma economia capitalista e um sistema democrático voltaram com força total.”
  • Como Matar Um Zumbi: Elaborando Estratégias Para o Fim do Neoliberalismo [Mark Fisher] – “Uma ideologia que prometia nos libertar da burocracia estatal socialista tem, ao invés, imposto uma burocracia própria sua. Isso só parece um paradoxo se tomarmos o neoliberalismo em suas próprias palavras.
  • Não Há Alternativa? [István Mészáros] – “Para muita gente, a presente situação parece fundamentalmente inalterável. Esta impressão parece ser reforçada por um dos slogans políticos mais frequentemente repetidos pelos que tomam as decisões por nós: ‘não há outra alternativa.’ Contudo, a dedicação de nossos líderes políticos ao avanço dos imperativos do sistema do capital não elimina suas deficiências estruturais e seus antagonismos potencialmente explosivos. Descobrir uma saída do labirinto das contradições do sistema do capital global por meio de uma transição sustentável para uma ordem social muito diferente é, portanto, mais imperativo hoje do que jamais o foi, diante da instabilidade cada vez mais ameaçadora.”
  • O Ano em Que o Capitalismo Real Mostrou a Que Veio [Jerome Roos] – “Tudo que nós um dia deveríamos temer sobre o socialismo — desde repressão estatal e vigilância em massa até padrões de vida em queda — aconteceu diante de nossos olhos
  • Realismo Capitalista e a Exclusão do Futuro [Mark Fisher] – “O fracasso do futuro assombra o capitalismo: depois de 1989, a vitória do capitalismo não consistiu na sua reivindicação confiante do futuro, mas em negar que o futuro é possível. Tudo o que podemos esperar, temos sido levados a acreditar, é mais do mesmo – mas em telas de resolução mais alta com conexões mais rápidas. A assombralogia, penso, expressa insatisfação com esta exclusão do futuro. […]  Parte da batalha agora será para garantir que o neoliberalismo seja percebido como morto. Acho que isso já está acontecendo. Há uma mudança nas atmosferas culturais, pequena no momento, mas vai crescer.”
  • Neoliberalismo, Ordem Contestada [Perry Anderson] – “O sistema sofre pressão inédita – pela Esquerda e pela Direita – mas resiste, apoiando-se no medo. Por que o populismo retrógrado ainda é mais forte? Como mudar o jogo?”
  • Sua Majestade, a Teoria Econômica [David Harvey] – “Aqui temos a crise econômica e financeira mais espetacular em décadas e o grupo que passa a maior parte de suas horas ativas analisando a economia basicamente não a enxergou.”
  • O Que Acontece Quando Você Acredita em Ayn Rand e na Teoria Econômica Moderna [Denise D. Cummins] – “E se as pessoas se comportassem de acordo com a filosofia do “objetivismo” de Rand? E se nós de fato nos permitíssemos ser cegos a tudo, menos nosso próprio interesse?”
  • Bill Gates e os 4 Bilhões na Pobreza [Michael Roberts] – “A pobreza global está caindo ou crescendo? Sabe-se que a desigualdade global vem aumentando rapidamente nas últimas décadas, mas muitos defensores do capitalismo se apressam para nos afirmar que, apesar disso, nunca estivemos melhor. Será mesmo?
  • Uma Criança Que Morre de Fome Hoje é Assassinada [Jean Ziegler, entrevistado por Leonardo Cazes] – “Relator da ONU para o direito à alimentação entre 2000 e 2008, Jean Ziegler procura explicar por que ainda existe fome se a produção agrícola mundial é suficiente para alimentar toda a população e faz contundentes críticas à especulação nas bolsas de commodities e às multinacionais”
  • Contando Com os Bilionários [Japhy Wilson] – Filantropo-capitalistas como George Soros querem que acreditemos que eles podem remediar a miséria econômica que eles mesmos criam.
  • Uma Economia Para os 99%relatório da Oxfam apresentando dados sobre a situação atual das desigualdades sociais; os mecanismos que as vêm reproduzindo e aprofundando mundo à fora; sobre como isso destrói qualquer possibilidade de democracia; e sobre possíveis medidas para superar esta situação;
  • Pikettyismos [Ladislau Dowbor] – “O livro de Thomas Piketty [documentando toda a trajetória da desigualdade no mundo desenvolvido desde o século XIX e provando que ela vem crescendo rapidamente nas últimas décadas, desde a virada para o Neoliberalismo] está nos fazendo refletir, não só na esquerda, mas em todo o espectro político. Cada um, naturalmente, digere os argumentos, e em particular a arquitetura teórica do volume, à sua maneira.”
  • A Economia Tradicional Está Errada – [Joseph Stiglitz] Sobre como as teorias econômicas dominantes não só não conseguem explicar as desigualdades atuais e suas consequências como, na verdade, elas foram elementos chave para incentivá-las.

 

2 pensamentos sobre “A África Está Destinada ao Subdesenvolvimento?

    • Muito obrigado, Jr, tb acho esse texto espetacular, por isso fiz questão de postar! Procura esse livro, vale muito a pena! O autor é um defensor do capitalismo, mas o livro tem muitas sacadas importantes, mesmo para quem acredita que esse sistema precisa ser superado!

      Curtir

Deixe um comentário