Comunismo Verde Totalmente Automatizado

[O desafio das mudanças climáticas precisa de uma resposta à altura, que reconheça a sua dimensão, amplitude e a necessidade de mudanças profundas em nossas tecnologias, relações de produção, relações com a natureza, em nosso dia-a-dia e em nossas visões de mundo. Felizmente, depois de décadas de dominação quase absoluta do “realismo capitalista” e de suas propostas vazias de respostas à crise climática via mercado, vai se abrindo o espaço para uma proposta “populista” pela construção de uma alternativa radical que abrace a expansão e a democratização das tecnologias de energias renováveis, robótica fina, inteligência artificial, e produção aditiva como um projeto político a ser disputado, para a construção de uma sociedade focada na sustentabilidade e na socialização da abundância, do lazer, do bem-estar e da maior disponibilidade de tempo para as mais diversas atividades.]

por Aaron Bastani, na Novara Media, Novembro de 2017

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[artigo traduzido numa parceria O MinhocárioComunismo de Luxo Totalmente Automatizado]

A estreia das mudanças climáticas como uma questão de relevância global foi a Cúpula da Terra do Rio em 1992 (ECO-92). Desde então, a relação entre energia e economia só se tornou mais política, com cidadãos de todo o Norte e Sul Global [1] cada vez mais conscientes dos desafios que isso representa. De fato, uma pesquisa [2] de 2017 realizada pela Pew (Pew Research Center, instituto de pesquisa estadunidense) em 38 países mostrou que 61% dos entrevistados consideram as mudanças climáticas como uma das maiores preocupações, colocando-as acima da geopolítica tradicional, migração e um modelo econômico falido em termos de ameaça percebida.

E, no entanto, o aumento da conscientização pública ao longo do último quarto de século não conseguiu se traduzir em ação significativa. Os níveis atmosféricos de dióxido de carbono (CO2), o principal “gás de efeito estufa”, foram 61% maiores em 2013 do que em 1990. Os anos que se seguiram à crise econômica de 2008 foram os de maiores aumentos anuais de emissões na História.

Mas não há apenas uma dissonância entre o conhecimento dos fatos e a forma como atuamos. Há também o problema da nossa incapacidade de modelar o futuro com precisão.

No presente, o consenso científico é que dois graus de aquecimento neste século são altamente prováveis. Embora isso represente um enorme choque para a ordem global, com níveis de migração jamais vistos, diminuição de colheitas e uma enorme crise de recursos, se isso fosse “apenas” ruim assim, ainda teríamos uma saída com sorte.

A razão é que qualquer coisa muito além disso nos veria alcançar um ponto de inflexão. Aqui, uma cascata de ciclos de retroalimentação [3], incluindo a desertificação e a liberação de hidrato de metano, fariam com que três graus levassem a quatro, quatro a cinco e cinco a seis.

A humanidade poderia suportar um mundo seis graus mais quente do que no presente? Talvez, mas com oceanos muito quentes e ácidos para manter a vida, com a agricultura em massa somente possível em torno dos pólos norte e sul e com níveis elevados de metano atmosférico – colocando problemas para qualquer coisa que respire – é difícil de imaginar.

Um presente eterno: a tirania do Realismo Capitalista.

Como é possível que cada vez mais pessoas estejam cientes das mudanças climáticas, bem como suas conseqüências potencialmente devastadoras, e ainda assim tão pouco seja feito? A resposta é a Política.

As gerações futuras olharão em retrospecto para os últimos 25 anos e isolarão duas coisas em particular. A primeira é um aumento dramático nas emissões de dióxido de carbono – e com isso uma aceleração adicional no aquecimento global. A segunda é um modelo econômico particular, globalizado não só em termos de comércio e produção, mas, mais importante ainda, um quadro que coloca o lucro acima de tudo e que exige circulação.

Isso deve ser entendido como “globalização contemporânea“, algo distinto do processo geográfico de mesmo nome – que segue ao mesmo tempo que ele – que se desenvolve, em vez disso, como uma “compressão do tempo-espaço” tornada possível pelas transformações tecnológicas. [4]

A globalização contemporânea foi um acerto político intencional, fundado em um certo conjunto de idéias, e embora mapeie o fenômeno tecnológico e geográfico, esse último poderia ter se desenvolvido sem o primeiro.

Para a globalização contemporânea, o fim da Guerra Fria foi decisivo, com as instituições do capitalismo ocidental da metade do século XX – o FMI, a OMC e o Banco Mundial – combinado com um novo zeitgeist cultural do realismo capitalista – a idéia de que o fim do mundo seria mais possível do que o fim do capitalismo. [5] Aqui, os mercados livres não eram mais entendidos como sistemas socialmente contingentes, mas sim a totalidade da realidade. A síntese destes dois elementos, somada à ausência histórica de uma utopia concorrente ou de forças geopolíticas compensatórias, [6] levaram a uma segunda belle epoque entre 1990 e 2008. [7] Aqui, um sistema econômico específico, baseado em mercados globais em constante expansão e na eliminação de toda fricção na circulação (seja cultural, tecnológica ou econômica), foi crucial.

Sem surpresa, isso se deu principalmente nos países afluentes do Norte Global, onde o realismo capitalista reinava supremo. Para as nações em desenvolvimento, a história permaneceu longe de terminar, [8] com a lógica operacional, em vez disso, de alcançar padrões de vida mais elevados, salários crescentes e maior prosperidade. Uma economia global cada vez mais integrada, particularmente depois de 1990, permitiu que os dois se adequassem como peças de um quebra-cabeça: o trabalho barato de uma China em ascensão no Sul Global possibilitava a economia psíquica do realismo capitalista no Norte Global. Os primeiros ficaram mais ricos, os últimos se sentiram mais ricos. Em termos marxistas, a base [ou “estrutura”]  do Sul Global possibilitou a superestrutura das nações mais ricas.

E por um tempo funcionou.

Mas, em termos de mudanças climáticas, esse acerto econômico e cultural – baseado tanto no consentimento quanto na coerção – permitiu que as soluções baseadas no mercado permanecessem inquestionáveis até a crise de 2008, mesmo quando ficava claro que nem sequer estavam tocando a superfície da questão.

Embora as mudanças climáticas possam ser o resultado da modernidade industrial, ou do “capitalismo fóssil“, como Andreas Malm se refere a ele, [9] para os verdadeiros crentes isso era irrelevante. Pelo contrário, de fato, isso agravou uma fé cega na capacidade da tecnologia para resolver quase qualquer problema. Assim como a máquina à vapor movida a carvão de Watt transformou a sociedade na virada do século XIX, de forma semelhante, tecnologias ecológicas sustentariam uma transição similar em nosso próprio tempo. Os limites do crescimento se expandiriam mais uma vez. Afinal, o capitalismo era a realidade, a história acabou e nada realmente muda.

Esse conjunto de presunções, em que as mudanças na tecnologia manteriam a capacidade do capitalismo de sustentar o planeta independentemente, é referida como a “solução tecnológica“. Isso geralmente vem na forma de seqüestro de carbono, geo-engenharia e fontes renováveis – ou uma combinação dos três.

A solução tecnológica busca negar a Política, afirmando que se pode mudar a realidade social sem mudar as relações sociais: os ricos não precisam ser menos ricos, as disparidades na renda não precisam ser reduzidas, o consumo de bens e serviços não precisa diminuir. [10] Diante de um sistema econômico que não conseguiu oferecer um nível de vida crescente, é por isso que os autoproclamados “moderados” gritam “inovação!” [11] Esta não é uma posição moderada – é fervorosa.

Até certo ponto, há alguma razão nessa linha de argumentação. A humanidade, até agora, pelo menos, conseguiu superar todos os desafios que enfrentou – desde micróbios mortíferos até predadores maiores e a turbulência de várias eras glaciais. Cada vez, nós não só prevalecemos mas prosperamos, principalmente como resultado de nossa capacidade de processar informações e criar ferramentas – tecnologia – em resposta.

Historicamente, o movimento verde desprezou o raciocínio da solução tecnológica, e com razão. A maioria daqueles que os perseguem em relação ao clima – com esquemas loucos como bloquear parte do sol com uma “sombra espacial” para gerenciar a radiação solar ou remover grandes quantidades de CO2 da atmosfera através do seqüestro de carbono – não quer salvar o planeta, mas prolongar o sistema econômico e social que o está matando – um baseado em produção para troca, lucro e trabalho.

A política verde, no seu mais radical, tem insistido, assim, em que uma resposta adequada deve ser mais fundamental. Em seu interior, havia uma compreensão implícita de como a História se desenrola e a mudança ocorre. Assim, enquanto os deterministas tecnológicos entendem a tecnologia como a força motriz da história e, portanto, a única maneira de abordar a mudança climática, os verdes radicais compreendem as relações e idéias sociais, ou mesmo as relações com a natureza, como o que realmente importa.

A este respeito, ambos os lados exibem um viés. Mas para mudar a História e salvar o mundo, isso não é suficiente.

Como fazemos História.

A melhor maneira de entender a tecnologia, como ela internaliza e molda as relações sociais na cultura, na sociedade e na economia, é vê-la como um elemento dentro de um todo mais amplo através do qual a História evolui. É assim que David Harvey lê o pensamento de Karl Marx sobre o tema – com o autor d’O Capital compreendendo a História como constituída por seis campos distintos, mas mutuamente adaptativos: Tecnologia, natureza, processo de produção, reprodução do cotidiano, relações sociais e concepções mentais. Todos estão em tensão dinâmica, cada um constantemente moldando e sendo moldado por todos os outros.

Marx queria entender como a História foi feita, para mudá-la: “Os filósofos até então apenas interpretaram o mundo de várias maneiras; o objetivo é mudá-lo”. Quando você pensa sobre a História como algo tão complexo e gerado por campos tã abrangentes, rapidamente compreende os limites de se enfatizar apenas um.

Elon Musk, por exemplo, diz que a tecnologia determina a História, assim como o realismo capitalista em geral. Isso permite enquadrar as realidades políticas construídas como naturais e imutáveis. Enquanto isso, um eco-anarquista pode dizer que a natureza e as relações sociais são todas importantes: talvez, se todos nós fôssemos veganos e ciclistas, salvaríamos o planeta. Alternativamente, Lenin teria dito que o processo de produção é primário, e que, sem mudanças significativas aí, o resto não tem importância.

Para Marx, no entanto, a transformação sistêmica – o que ele chamou de mudar para um “novo modo de produção” – exigiria lidar com todas essas categorias juntas. Assim como o capitalismo (definido pela produção para troca e mão-de-obra assalariada [12]) surgiu lentamente ao longo de um período de séculos, assim também o faria o que for sucedê-lo. Como pós-capitalistas, e como seres humanos que querem parar as mudanças climáticas desenfreadas, isso deve estar presente em como agimos agora.

Dado o prazo em que estamos operando (temos cerca de três décadas para descarbonizar completamente a produção global enquanto o consumo de energia deve dobrar), isso não será fácil. A resposta é enfatizar cada momento como parte de uma mudança mais ampla, com a necessidade de novas tecnologias, relações sociais, concepções mentais, fluxos de trabalho e concepções da natureza. Nenhuma esfera sozinha é suficiente.

Embora isso possa soar extremamente difícil, muito trabalho já tem sido feito. O trabalho de ativistas e movimentos de direitos dos animais em torno de hábitos alimentares modificados significa que muitos agora desfrutam de uma relação muito diferente com a natureza. E mesmo aqueles de nós que não são vegetarianos ou veganos achariam a visão cartesiana de outras espécies animais como autômatos não apenas estranha, mas desumana. Uma das principais alterações no tratamento das mudanças climáticas será a transformação na produção e consumo de alimentos, com a carne em particular usando quantidades prolíficas de água e de terra, e gerando quantidades significativas de gases de efeito estufa como o metano. Isso sem mencionar a ética dos animais como mercadorias.

Em resposta, espere que o vegetarianismo e o veganismo se tornem cada vez mais comuns nas próximas décadas. Além das concepções mudadas sobre a natureza, a mudança da tecnologia que manifesta essas concepções também será importante, conforme, nos próximos anos, os substitutos da carne se tornarem cada vez mais autênticos e a carne sintética – carne sem animais – encontrar um mercado de massa. Usando muito menos água e terra, e criando muito menos metano como subproduto, a carne sintética é uma conversão muito mais eficiente da energia solar em alimento do que a criação de animais – algo que provavelmente será ridicularizado em um futuro não muito distante.

Enquanto isso, as tecnologias renováveis estão a fazer grandes avanços, assim como o armazenamento de energia. Um mundo que tenha uma produção completamente descarbonizada em algum ponto do século XXI não é o sonho molhado de otimistas de tecnologia, mas parece inevitável quando se olha a queda do custo das tecnologias de painéis solares e energia eólica como conseqüência de curvas de experiência.

Perguntas semelhantes precisarão ser respondidas sobre inteligência artificial, dados em geral e extração de recursos além do nosso planeta. [13] Tudo isso está chegando, e com isso um novo paradigma civilizatório – tão disruptivo quanto foi a máquina à vapor juntamente dos combustíveis fósseis no início da Revolução Industrial. O que importa, para os pós-capitalistas, é se seremos capazes ou não de dobrar o arco da história para garantir que o dividendo dessas tecnologias se reflita na emancipação de todos nós – e não apenas no aumento dos lucros para poucos.

Importante, em relação às energias renováveis, a difusão deve acontecer com urgência; caso o contrário, o aquecimento de mais de dois graus parece quase certo.

O pequeno é lindo, o grande é lindo. [14]

Historicamente, tudo isso é anátema para as melhores tradições do movimento verde que, desde o início dos anos 1970, persistiram com a idéia do crescimento encontrando limites e a importância de tornar local a produção e gerar tipos de vidas muito diferentes. [15]

Embora seja verdade que sua viagem matinal é ineficiente em todos os sentidos, e que você compra muitas coisas que você na verdade não precisa, a idéia de que a resposta às mudanças climáticas está em consumir menos energia – que uma mudança para energias renováveis significará necessariamente uma redução na vida – parece errada. De fato, as tendências com as energias renováveis apontam para o contrário: o sol fornece ao nosso planeta energia suficiente para atender a demanda anual da humanidade em apenas 90 minutos. Em vez de consumirmos menos energia, os desenvolvimentos em energia eólica e solar (e dentro de apenas algumas décadas) devem significar energia distribuída de tal abundância que não saberemos o que fazer com ela. Quando combinados com as tecnologias da inteligência artificial, robôs com forte acoplamento sensório-motor e mineração de asteróides, de repente você enxerga uma sociedade para além da escassez de energia, recursos e, mais importante, trabalho. [16]

O Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado [17] é o Populismo Verde.

Esta é a visão que deve ser oferecida em resposta às mudanças climáticas – uma que aceita relações alteradas com a natureza, especialmente com outras criaturas, mas que recua do primitivismo verde ou do “retorno ao campo“. [18] Para aqueles que fizerem isso, será uma questão de escolha e não de necessidade.

Nesse mundo, não precisamos viajar menos, nem desfrutar de colheitas e alimentos de outras partes do planeta. Muito pelo contrário – ver os grandes feitos da humanidade e a beleza da Terra será o direito fundamental de todos. A vida será mais fácil com cada vez mais tempo dedicado ao lazer e não ao trabalho. Qual seria o significado da vida? Bem, isso ficaria para você decidir. [19]

Esta é uma visão populista que entende os potenciais do presente que virá em breve, buscando mudá-los para um propósito mais elevado. O comunismo de luxo totalmente automatizado não é inevitável, e cenários alternativos são possíveis: o rentismo e a escassez artificial são tão plausíveis quanto a abundância; guerra e destruição em massa tão prováveis quanto energia limpa permanentemente mais barata. Fundamentalmente, porém, qualquer movimento verde efetivo deve compreender essas tecnologias ou perder. A evolução não tem reversão.

Além disso, esse populismo deve ser global, conciliando as necessidades e os interesses dos países mais pobres com os dos mais ricos. A transição para a energia renovável no Sul Global – que aproveitará a energia mais abundante e mais barata em qualquer lugar da Terra – será possível através da transferência de tecnologia e reparações por injustiça histórica sob a forma de um imposto global sobre o carbono. [20] Descarbonizar a economia não apenas salvará o planeta, ricos e pobres; isso levará eletricidade para as centenas de milhões na África sub-sahariana e no sul da Ásia atualmente sem energia. Isso dará suporte a um nível de recuperação do atraso tecnológico impensável para aqueles que associam grandes infra-estruturas centralizadas à geração e distribuição de energia.

Mas esse populismo precisará enfrentar a globalização contemporânea, cujo modelo privilegia a livre circulação de bens e capital sobre as pessoas, e cuja ênfase no comércio sem fronteiras – muitas vezes o padrão, mesmo dentro da Esquerda – é a essência do fetiche da mercadoria. [21] Este modelo tem limitado a possibilidade dos Estados de se descarbonizarem em velocidade, muitas vezes por meio de regras de compras centradas em concorrência justa, [22] algo bem documentado por Naomi Klein em seu livro ‘This Changes Everything‘ [‘Isso Muda Tudo’].

Uma globalização consciente não entregará a mudança que precisamos, seja ela ambiental ou econômica; e um anseio para romper com a ordem estabelecida deve ser conjugado com o impulso para criar abundância de energia ao nos afastar dos combustíveis fósseis. Como Paul Mason escreve:

“De George Square, em Glasgow, até a Praça Syntagma em Atenas, sempre havia uma bandeira catalã ondulando acima da multidão. Nunca havia entendido, até agora, que essas bandeiras eram uma parte essencial da história. As narrativas sobre “rompimento” na Europa moderna – quer se afastem dos Estados-nação, das moedas, das zonas de livre circulação ou da própria UE – são todas conduzidas por um fato central: o arranjo atual não funciona “.

Fingir o contrário seria lamentavelmente inadequado, e qualquer populismo verde, no nível micro ou macro, deve ser enérgico sobre isso. Uma ruptura com os combustíveis fósseis e o neoliberalismo também deve ser uma ruptura com a atual ordem global. [23]

O aspecto final do populismo verde é o reconhecimento de que os Estados importam e o eleitoralismo é importante. [24] Durante muitas das últimas décadas, o movimento verde favoreceu projetos locais de pequena escala, com gêneros de ativismo que favorecem a auto-transformação, a união experimental e o imediatismo. Tudo isso tem valor e não deve ser dispensado, mas os verdes radicais precisam entender que somente os Estados, os maiores instrumentos de ação coletiva já criados pelos humanos, podem realizar o que é preciso. [25]

Então, como pareceria essa “realização”? Isso significa descarbonizar completamente o Norte Global até 2030 e o Sul Global até 2040. Significa que os países em toda a Europa e América do Norte precisarão reduzir as emissões de CO2 em 8% a cada ano nos anos 2020, com o mesmo se dando para os países mais pobres ao longo da década seguinte.

Isso exigirá enormes níveis de consentimento, ao lado da mobilização dos Estados em algo parecido com um esforço de guerra. Felizmente, as pessoas precisam de empregos – até que os robôs sejam um acoplamento sensório-motor perfeito – e há muitos bens públicos como saúde, educação e habitação universal, que devem ser envolvidos num projeto mais amplo de transformação ecológica e renovação social. [26]

Populismo não significa se curvar ao menor denominador comum. Significa ver o que as pessoas desejam e transmiti-lo através de um paradigma tecnológico cujas relações sociais ainda não foram decididas. Significa dizer “aqui está um caminho para uma abundância ilimitada”, ao invés de pedir que a civilização seja colocada em uma camisa-de-força.

Ao compreendermos a história como um fluxo evolutivo, podemos continuar a construir esse projeto no agora – nas ideias, nos modelos de produção e consumo, nas relações e nas tecnologias. No entanto, é importante observarmos que isso precisa ser combinado com uma visão de progresso e de destino inevitável, com as organizações estabelecidas de representação democrática – Estados, sindicatos e partidos – como os auxiliares para a construção de um mundo radicalmente diferente.

Tradução: Everton Lourenço


Notas

[1] As expressões “Norte Global” e “Sul Global” não possuem apenas um significado relativo às posições geográficas dos países no globo; ao invés, carregam um significado relativo ao fato de que a maioria dos países mais ricos estão dispostos no hemisfério norte do planeta (apesar de excessões como a Austrália e a Nova Zelândia) enquanto a maioria dos países no hemisfério Sul fazem parte da periferia capitalista, vítimas de suscessivos processos de dominação e sujeição aos interesses externos, baixo desenvolvimento econômico (normalmente vinculado a produtos primários para exportação), atraso tecnológico e de infra-estrutura, mão de obra de baixo salário, etc. [N.M.]

[2] http://www.pewglobal.org/2017/08/01/globally-people-point-to-isis-and-climate-change-as-leading-security-threats/

[3] No original, “feedbacks”. [N.M.]

[4] Podemos compreender o que o autor chama de “Globalização Contemporânea” como parte do arranjo maior do Neoliberalismo, que dominou o espaço político e econômico das últimas décadas, e que só passou a mostrar sinais de fraqueza a partir da crise de 2008 – mas que segue como o modelo absoluto de pensamento sobre nossa sociedade (mesmo que para alguns autores isso se dê agora apenas por inércia, como um “zumbi”, como chama Mark Fisher). Para quem não tem muita clareza sobre o que significa “neoliberalismo”, vale muito a pena ler a introdução de George Monbiot sobre o tema para o jornal The Guardian: ‘Neoliberalismo, a Ideologia na Raiz de Nossos Problemas’, além de ‘Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda’, de Robert Brenner. ‘Como Vai Acabar o Capitalismo?’, de Wolfgang Streeck faz uma análise do desmonte trazido pelo período neoliberal e defende que seu sucesso pode estar levando o Capitalismo global a uma ruptura, mesmo na ausência de uma alternativa global organizada. Em ‘Realismo Capitalista e a Exclusão do Futuro’ e ‘Como Matar Um Zumbi: Elaborando Estratégias Para o Fim do Neoliberalismo’, Mark Fisher comenta a perda do impulso ideológico à frente que marcou o domínio do Neoliberalismo em suas décadas de certezas absolutas (dos  anos 80 até a crise de 2008) e também analisa questões que os movimentos da Esquerda precisarão resolver para derrubá-lo de vez. Outros textos interessantíssimos sobre o neoliberalismo podem ser acessados aqui. [N.M.]

[5] Ver ‘Realismo Capitalista e a Exclusão do Futuro’, de Mark Fisher. [N.M.]

[6] Mais uma vez, ver  ‘Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda’, de Robert Brenner e ‘Como Vai Acabar o Capitalismo?’, de Wolfgang Streeck. [N.M.]

[7] Belle Epoque é como ficou conhecida a era anterior à primeira guerra mundial, quando a burguesia europeia e estadunidense desfrutava de um estilo de vida luxuoso e que passou a ser lembrado com saudade por seus membros nas décadas seguintes (marcadas pela Primeira Guerra Mundial, revoltas e revoluções, crises econômicas – inclusive a de 29 – e culminando com a Segunda Guerra Mundial). O final da segunda guerra marcou o início para uma nova era de ascensão capitalista, mas em uma versão menos desigual do que aquela do final do século XIX e início do XX – um período que ficou conhecido como “Era de Ouro” do Capitalismo (pelo menos nos países capitalistas centrais), pela força do crescimento econômico com um certo nível de distribuição de renda através de salários e serviços públicos abrangentes – esse período também é lembrado como o do “Estado de Bem-Estar Social”, “Keynesiano”, ou  “Social-Democracia” do Pós-Guerra. Os níveis de desigualdade e de opulência para a elite capitalista comparáveis com os do final do século XIX só seriam recuperados com o avanço do neoliberalismo, à partir dos anos 80 do século XX. [N.M.]

[8] referência à tese do “Fim da História”, famosa logo após o fim da Guerra Fria, que dizia que o Capitalismo Neoliberal seria o estágio final da História humana, que não haveriam novos conflitos ou impecilhos dignos de nota em seu futuro. Foi apresentada inicialmente por Francis Fukuyama e passou a ser ridicularizada, principalmente à partir de 2008 (mas já em certo nível em 2001). [N.M.]

[9] Ver  ‘O Mito do Antropoceno’, de Andreas Malm. [N.M.]

[10] Ver ‘Bill Gates Não Vai Nos Salvar [E Nem Elon Musk]‘, de Ben Tarnoff; ‘Planejando o Bom Antropoceno’, de Leigh Phillips e Michal Rozworski; e ‘A Sociedade do Smartphone’, de Nicole M. Aschoff – Além de ‘Um Mundo Socialista Não Significaria Só Uma Crise Ambiental Maior Ainda?’, de Alyssa Battistoni e ‘Socialismo Como Futuro Automatizado e Igualitário em Resposta à Crise Ambiental‘, de Peter Frase. [N.M.]

[11] Ignorando deliberadamente (ou cegamente) como a inovação de fato tem se dado sob o Capitalismo. Ver ‘Inovação Vermelha’, de Tony Smith. [N.M.]

[12] Ver “Uma Definição de Capitalismo”, de E. K. Hunt e Mark Lautzenheiser; outros bons textos sobre as características e contradições do Capitalismo podem ser encontrados em “Sobre Capitalismo [Leituras Temáticas #1] – O que é? Quais são suas características, problemas e limites?”; [N.M.]

[13] Ver ’O Lamentável Declínio das Utopias Espaciais’, de Brianna Rennix. [N.M.]

[14] Referência e brincadeira com o movimento “Small Is Beautiful” (“O Pequeno é Lindo”, “O Pequeno É Belo”) que defendia soluções locais e de pequena-escala para a organização da produção considerando os problemas ecológicos do nosso sistema. [N.M.]

[15] Ver ‘Rumo a Um Socialismo Ciborgue’, de Alyssa Battistoni; ‘Todo Poder aos “Espaços de Fazedores”’, de Guy Rundle; ‘Democratizar Isso’, de Michal Rozworski; e ‘Planejando o Bom Antropoceno’, de Leigh Phillips e Michal Rozworski; [N.M.]

[16] Ver ‘Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância‘, de Peter Frase. [N.M.]

[17] A expressão ”Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado” /”Comunismo de Luxo Totalmente Automatizado”/“Comunismo Luxuriante Totalmente Automatizado”/ “Comunismo de Abundância Totalmente Automatizado” vem do inglês “Fully Automated Luxury Communism” (ou “FALC”) e passou a ser usada nos últimos anos para designar esse cenário de abundância de recursos e de tempo livre democratizados num cenário pós-trabalho. Novamente, ver ‘Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância‘, de Peter Frase. [N.M.]

[18] novamente, ver ‘Todo Poder aos “Espaços de Fazedores”’, de Guy Rundle; [N.M.]

[19] Ver ‘O Socialismo Vai Ser Chato?‘, de Danny Katch; ‘Rumo a Uma Sociedade Pós-Trabalho‘, de David Frayne; ‘Renda Básica e o Futuro do Trabalho‘, de David Raventós e Julie Wark ; ‘Políticas Para Se ‘Arranjar Uma Vida’‘, de Peter Frase; e, novamente ‘Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância‘, de Peter Frase. [N.M.]

[20] Há interessantes visões divergentes sobre esse ponto – ver ‘Planejando o Bom Antropoceno’, de Leigh Phillips e Michal Rozworski; [N.M.]

[21] O “Fetiche da Mercadoria” ou “Fetichismo da Mercadoria” é um termo do marxismo que caracteriza o fenômeno pelo qual relação entre pessoas acabam mascaradas como relações entre coisas. Ver “O Fetichismo da Mercadoria”, de Fredy Perlman; [N.M.]

[22] Ver ‘Bill Gates Não Vai Nos Salvar [E Nem Elon Musk]‘, de Ben Tarnoff; ‘Planejando o Bom Antropoceno’, de Leigh Phillips e Michal Rozworski; [N.M.]

[23] E se não formos nós que guiemos essa ruptura, ela se dará, seja pelas mãos da Extrema-Direita, seja por rupturas caóticas ligadas às contradições que se acumulam no coração do Neoliberalismo – ver ‘Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda’, de Robert Brenner. ‘Como Vai Acabar o Capitalismo?’, de Wolfgang Streeck. [N.M.]

[24] Aqui há um debate pesado que envolve uma boa parte da Esquerda Radical, para não dizer toda ela. Para muita gente, a ideia de Estado está podre desde a raiz, identificado como “o comitê executivo da burguesia”, como na expressão de Marx – basicamente, um instrumento de repressão de classe e de defesa da propriedade privada a ser usado pelos ricos contra os pobres, garantindo a manutenção do sistema. Um exemplo desse tipo de análise pode ser visto em “Propriedade Privada, Substância do Estado”, do blog HumanaEsfera. Há outros grupos na Esquerda Radical (como o próprio Aaron Bastani, autor deste texto) que não negam que o Estado possui esses vícios dramáticos de origem – e que, inclusive, gostariam de vê-lo destruído o quanto antes – mas que acreditam que enquanto ele existir, este é um espaço político que pode e deve ser disputado pelas forças populares, e que sua amplitude e disseminação são elementos que podem ser usados para mobilizar transformações amplas em nossa realidade, sob pressão popular. Um exemplo nesse sentido pode ser visto em ‘Como Matar Um Zumbi: Elaborando Estratégias Para o Fim do Neoliberalismo’, de Mark Fisher. Ver também ‘Democratizar Isso’, de Michal Rozworski; ‘Dossiê Corbyn’; e ‘O Ponto de Ruptura da Social-Democracia‘, de Peter Frase, além dos textos na próxima nota. [N.M.]

[25] Ver ‘Socialismo Como Futuro Automatizado e Igualitário em Resposta à Crise Ambiental‘, de Peter Frase; ‘Bill Gates Não Vai Nos Salvar [E Nem Elon Musk]‘, de Ben Tarnoff; ‘Planejando o Bom Antropoceno’, de Leigh Phillips e Michal Rozworski; [N.M.]

[26] Ver ‘Vivo Sob o Sol, ‘de Alyssa Battistoni; [N.M.]


Leituras Relacionadas

  • Tecnologia e Ecologia Como Apocalipse e Utopia – [Peter Frase] “Muito se tem falado sobre os impactos da Crise Climática e de novas tecnologias de Automação de postos de trabalho para o nosso futuro em comum. Como as relações de propriedade e produção capitalistas e a Política, especificamente a Luta de Classes, se encaixam neste quadro? Será que a possibilidade de automação quase generalizada seria o bastante para garantir que ela ocorrerá? Qual seria o impacto dela sobre as condições de vida das pessoas? Com base nesses elementos, que tipo de cenários podemos esperar à partir do fim do Capitalismo?”
  • Socialismo Como Futuro Automatizado e Igualitário em Resposta à Crise Ambiental – [Peter Frase] Se os avanços tecnológicos da Quarta Revolução Industrial (em campos como Inteligência Artificial, Robótica avançada, fabricação aditiva, etc) forem o suficiente para automatizarmos a maior parte dos empregos, reduzindo a um mínimo a necessidade de trabalho humano, a produção de mercadorias através de trabalho assalariado estará superada – e, portanto, também o capitalismo. Se isso for alcançado em uma sociedade mais igualitária, democrática, sustentável e racional, ainda assim é possível que teremos de nos organizar para lidar com o estrago deixado no planeta pelo sistema capitalista, planejando, executando e administrando  projetos gigantescos de reconstrução, geo-engenharia e racionamento de recursos limitados. Em outras palavras, provavelmente ainda precisaremos de algum tipo de Estado.
  • Comunismo Como Futuro Automatizado de Igualdade e Abundância – [Peter Frase] “Um mundo em que a tecnologia tenha superado ou reduzido a um mínimo (e de forma sustentável) a necessidade de trabalho humano; em que esse potencial seja compartilhado com todos, eliminando a exploração e a alienação das relações de trabalho assalariado; onde as hierarquias derivadas do Capital tenham sido suplantadas por um modelo mais igualitário, agora capaz não só de sanar as necessidades de todos, mas de permitir o livre desenvolvimento de cada um, parece para muitos como um sonho de utopia inalcançável e ingênuo, onde não existiriam quaisquer conflitos ou hierarquias. Será mesmo?
  • Planejando o Bom Antropoceno – [Leigh Phillips e Michal Rozworski] O mercado está nos levando cegamente a uma calamidade climática – o planejamento democrático é uma saída.
  • Bill Gates Não Vai Nos Salvar [E Nem Elon Musk] – [Ben Tarnoff] Quando se trata de tecnologia verde, apenas o Estado pode fazer o que o Vale do Silício não pode.
  • Inovação Vermelha [Tony Smith] – “Longe de sufocar a inovação, uma sociedade Socialista colocaria o progresso tecnológico a serviço das pessoas comuns.”
  • Todo Poder aos “Espaços de Fazedores” [Guy Rundle] – “A impressão 3-D em sua forma atual pode ser um retorno às obrigações enfadonhas do movimento “pequeno é belo”, mas tem o potencial para fazer muito mais.
  • A Revolução Cybersyn [Eden Medina] – Cinco lições de um projeto de computação socialista no Chile de Salvador Allende.
  • Obsolescência Planejada: Armadilha Silenciosa na Sociedade de Consumo [Valquíria Padilha e Renata Cristina A. Bonifácio] – O crescimento pelo crescimento é irracional. Precisamos descolonizar nossos pensamentos construídos com base nessa irracionalidade para abrirmos a mente e sairmos do torpor que nos impede de agir
  • O Mito do Antropoceno [Andreas Malm] – Culpar toda a Humanidade pela mudança climática deixa o Capitalismo sair ileso.
  • Vivo Sob o Sol [Alyssa Battistoni] – “Não há caminho rumo a um futuro sustentável sem lidar com as velhas pedras no caminho do ambientalismo: consumo e empregos. E a maneira de fazer isso é através de uma Renda Básica Universal. “
  • Um Mundo Socialista Não Significaria Só Uma Crise Ambiental Maior Ainda? [Alyssa Battistoni] – “Sob o Socialismo, nós tomaríamos decisões sobre o uso de recursos democraticamente, levando em consideração necessidades e valores humanos, ao invés da maximização dos lucros.
  • Rumo a um Socialismo Ciborgue [Alyssa Battistoni] – “A Esquerda precisa de mais vozes e de críticas mais afiadas que coloquem nossa análise do poder e de justiça no centro das discussões ambientais, onde elas devem estar.”
  • A Fantasia do Livre-Mercado [Nicole M. Aschoff] – “Designar o mercado como ‘natural’ e o Estado como ‘antinatural’ é uma ficção conveniente para aqueles casados com o status quo. O “capitalismo consciente”, embora atraente em alguns aspectos, não é uma solução para a degradação ambiental e social que acompanha o sistema de produção voltado ao lucro. A sociedade precisa decidir em que tipo de mundo deseja viver, e essas decisões devem ser tomadas por meio de estruturas e processos democráticos.”
  • Quatro Futuros – [Peter Frase] Uma coisa de que podemos ter certeza é que o Capitalismo vai acabar; a questão, então, é o que virá depois.
  • Rentismo: Um Futuro Automatizado de Abundância Bloqueada Pela Desigualdade – [Peter Frase] Na penúltima parte da série sobre possíveis futuros após o fim do Capitalismo, – com o fim do uso de trabalho humano assalariado na produção de mercadorias, extrapolando as tendências atuais de aplicação de tecnologias como Inteligência Artificial, Robótica, Fabricação Aditiva, Nanotecnologia, etc – encaramos uma distopia em que as elites do sistema capitalista atual têm sucesso em manter seus privilégios e poderes, usando patentes e direitos autorais para bloquear e restringir para si o que poderia ser o livre-acesso universal à abundância possibilitada pelas conquistas do conhecimento humano num cenário em que a própria escassez poderia ser deixada para trás.
  • Exterminismo: ‘Solução Final’ Num Futuro Automatizado de Desigualdade e Escassez – [Peter Frase] A cada semana somos bombardeados por notícias sobre avanços tecnológicos assombrosos, que prometem diminuir, e muito, a necessidade de trabalho humano nas mais diversas atividades. De fato, podemos imaginar que em algum momento no futuro teremos a necessidade de muito pouco trabalho humano na produção de mercadorias. Mas e se chegarmos nesse ponto ainda divididos entre podres de ricos e “a ralé”? E se os recursos naturais de energia e de matérias-primas não forem o bastante para garantir uma vida luxuriante para todos? E se, do ponto de vista dos abastados, os ex-trabalhadores passarem a representar apenas um “peso inútil”, ou até mesmo, um risco “desnecessário”? No último capítulo sobre possíveis futuros automatizados com o fim do Capitalismo, somos confrontados por uma distopia de desigualdade e crueldade cujas raízes já podemos notar em muitas tendências atuais.
  • O Ano em Que o Capitalismo Real Mostrou a Que Veio – [Jerome Roós] “Tudo que nós um dia deveríamos temer sobre o socialismo — desde repressão estatal e vigilância em massa até padrões de vida em queda — aconteceu diante de nossos olhos
  • Bill Gates, Socialista? [Leigh Phillips] – “Bill Gates está certo: o setor privado está sufocando a inovação em energias limpas. Mas esse não é o único lugar em que o Capitalismo está nos limitando.
  • O Lamentável Declínio das Utopias Espaciais [Brianna Rennix] – “Narrativas ficcionais são um fator enorme moldando nossas expectativas do que é possível. Infelizmente, utopias estão atualmente fora de moda, como a tediosa proliferação de ficção distópica e filmes de desastre parece indicar. Por que só “libertarianos” fantasiam sobre o espaço hoje em dia?”
  • Lingirie Egípcia e o Futuro Robô [Peter Frase] – O pânico sobre automação erra o alvo – o verdadeiro problema é que os próprios trabalhadores são tratados feito máquinas.”
  • Os Ricos Não Merecem Ficar Com a Maior Parte do Seu Dinheiro?“A riqueza é criada socialmente – a redistribuição apenas permite que mais pessoas aproveitem os frutos do seu trabalho.”
  • Contando Com os Bilionários [Japhy Wilson] – Filantropo-capitalistas como George Soros querem que acreditemos que eles podem remediar a miséria econômica que eles mesmos criam.
  • A Sociedade do Smartphone [Nicole M. Aschoff] – “Assim como o automóvel definiu o Século XX, o Smartphone está reformulando como nós vivemos e trabalhamos hoje em dia.”
  • Bill Gates e os 4 Bilhões na Pobreza [Michael Roberts] – “A pobreza global está caindo ou crescendo? Sabe-se que a desigualdade global vem aumentando rapidamente nas últimas décadas, mas muitos defensores do capitalismo se apressam para nos afirmar que, apesar disso, nunca estivemos melhor. Será mesmo?
  • Uma Economia Para os 99%relatório da Oxfam apresentando dados sobre a situação atual das desigualdades sociais; os mecanismos que as vêm reproduzindo e aprofundando mundo à fora; sobre como isso destrói qualquer possibilidade de democracia; e sobre possíveis medidas para superar esta situação;
  • Pikettyismos [Ladislau Dowbor] – “O livro de Thomas Piketty [documentando toda a trajetória da desigualdade no mundo desenvolvido desde o século XIX e provando que ela vem crescendo rapidamente nas últimas décadas, desde a virada para o Neoliberalismo] está nos fazendo refletir, não só na esquerda, mas em todo o espectro político. Cada um, naturalmente, digere os argumentos, e em particular a arquitetura teórica do volume, à sua maneira.”
  • ABCs do Socialismo
  • Por Que Socialismo? Albert Einstein explica, de maneira clara e objetiva, os problemas fundamentais que enxerga na sociedade capitalista e porque uma sociedade socialista poderia ser o caminho para superá-los.
  • Socialismo, Mercado, Planejamento e Democracia [Seth Ackerman, John Quiggin, Tyler Zimmer, Jeff Moniker, Matthijs Krul, HumanaEsfera] – “O socialismo promete a emancipação humana, com o alargamento da democracia e da racionalidade para a produção e distribuição de bens e serviços e o uso da tecnologia acumulada pela humanidade para a redução a um mínimo do trabalho necessário por cada pessoa, liberando seu tempo para o seu livre desenvolvimento. Como organizar uma economia socialista para realizar essas promessas?”
  • Votando Sob o Socialismo – [Peter Frase] Vai ser mais significativo – mas esperamos que não envolva assembleias sem-fim.
  • Democratizar Isso [Michal Rozworski] – “Os planos do Partido Trabalhista inglês para buscar modelos democráticos de propriedade são o aspecto mais radical do programa de Corbyn, e um dos mais radicais que temos visto na política dominante em muito tempo.”
  • Economia e Planejamento Soviéticos e as Lições na Queda – [Paul Cockshott e Allin Cottrel] “Desde os anos 90 temos sido bombardeados por relatos sobre como a queda da União Soviética seria uma prova definitiva da impossibilidade de qualquer forma de Economia Planejada racionalmente, de qualquer forma de Economia Socialista, de qualquer forma de Socialismo – e de que não existiria alternativa para organizar a produção e o consumo das sociedades humanas a não ser o Capitalismo de Livre-Mercado. Será mesmo?
  • Bancos, Finanças, Socialismo e Democracia – [Ladislau Dowbor, Nuno Teles e J. W. Mason] Os bancos são instituições centrais na articulação das atividades no sistema capitalista. Como essas instituições deixaram de cumprir suas funções básicas e passaram a estender seu domínio sobre toda a economia? Podemos ver o sistema financeiro como um ambiente “neutro” cujos resultados são os “naturais” gerados pelos “mercados”? Será que dividir os grandes bancos será o suficiente para resolver essa situação?
  • O Comunismo Não Passa de Um Sonho de Utopia? Só Funcionaria Com Pessoas Perfeitas? – [Terry Eagleton] “O Comunismo é apenas um sonho de ingenuidade, utopia e perfeição? Ele ignora a maldade e o egoísmo que estariam na essência da natureza humana? Um tal sistema precisaria que todos pensassem e agissem de uma única maneira, só poderia funcionar com pessoas perfeitas e harmoniosas como peças de relógio, nunca com os seres humanos diversos e falhos que realmente existem?”
  • Precisamos Dominá-la [Peter Frase] – “Nosso desafio é ver na tecnologia tanto os atuais instrumentos de controle dos empregadores quanto as precondições para uma sociedade pós-escassez.
  • Tecnologia e Estratégia Socialista [Paul Heidmann] – “Com poderosos movimentos de classe em sua retaguarda, a tecnologia pode prometer a emancipação do trabalho, ao invés de mais miséria.
  • Políticas Para Se ‘Arranjar Uma Vida’ [Peter Frase] – “O trabalho em uma sociedade capitalista é um fenômeno conflituoso e contraditório. Uma política para a classe trabalhadora tem de ser contra o trabalho, apelando para o prazer e o desejo, ao invés de sacrifício e auto-negação.
  • Todo Poder aos “Espaços de Fazedores” [Guy Rundle] – “A impressão 3-D em sua forma atual pode ser um retorno às obrigações enfadonhas do movimento “pequeno é belo”, mas tem o potencial para fazer muito mais.
  • Os Robôs Vão Tomar Seu Emprego? [Nick Srnicek e Alex Williams] – “Com a automação causando ou não uma devastação nos empregos, o futuro do trabalho sob o capitalismo parece cada vez mais sombrio. Precisamos agora olhar para horizontes pós-trabalho.”
  • Robôs e Inteligência Artificial: Utopia ou Distopia? [Michael Roberts] – “Diz muito sobre o momento atual que enquanto encaramos um futuro que pode se assemelhar ou com uma distopia hiper-capitalista ou com um paraíso socialista, a segunda opção não seja nem mencionada.”
  • Robôs, Crescimento e Desigualdade – Mesmo uma instituição como o FMIvem notando as tendências que a automação de empregos devem gerar nas próximas décadas, incluindo um crescimento vertiginoso da desigualdade social, e a necessidade de compartilhar a abundância prometida por essas inovações.
  • Automação e o ‘Fim do Trabalho’ na Mídia Internacional Dominante 
  • Como Vai Acabar o Capitalismo? – [Wolfgang Streeck] “O epílogo de um sistema em desmantêlo crônico: A legitimidade da ‘democracia’ capitalista se baseava na premissa de que os Estados eram capazes de intervir nos mercados e corrigir seus resultados, em favor dos cidadãos; hoje, as dúvidas sobre a compatibilidade entre uma economia capitalista e um sistema democrático voltaram com força total.”
  • Neoliberalismo, A Ideologia na Raiz de Nossos Problemas – [George Monbiot] “Crise financeira, desastre ambiental e mesmo a ascensão de Donald Trump – o Neoliberalismo,  a ideologia dominante no ‘Ocidente’ desde os anos 80, desempenhou seu papel em todos eles. Como surgiu e foi adotado pelas elites a ponto de tornar-se invisível e difuso? Por que a Esquerda fracassou até agora em enfrentá-lo?”
  • Desabamento Contínuo: Neoliberalismo Como Estágio da Crise Capitalista, Rendição Social-Democrata, Revolta Popular Recente e as Aberturas à Esquerda – [Robert Brenner] Na fase atual do neoliberalismo, o capitalismo não é mais capaz de garantir crescimento e desenvolvimento semelhantes aos estágios anteriores. Nem mesmo se mostra capaz de garantir condições de vida aos trabalhadores e, assim, assegurar seu apoio ao sistema – passando a depender cada vez mais do medo imposto sobre os mesmos sobre a perda de seus empregos, sobre o futuro, e sobre repressão – e despertando revolta de massa à Esquerda e à Direita. O que se segue é uma tentativa inicial e muito parcial de apresentar como entendemos o panorama político de hoje; uma série de suas características notáveis; as aberturas que se apresentam aos movimentos e à Esquerda; e os problemas que a Esquerda enfrenta.
  • O Projeto Socialista e a Classe Trabalhadora – [David Zachariah] “As pessoas na Esquerda estão unidas em seu objetivo de uma sociedade em que cada indivíduo encontre meios aproximadamente iguais para o pleno desenvolvimento de suas capacidades diversas. O que distingue os socialistas é o reconhecimento de que a forma específica como a sociedade está organizada para reproduzir a si mesma também reproduz grandes desigualdades sociais nos padrões de vida, emprego, condições de trabalho, saúde, educação, habitação, acesso à cultura, meios de desenvolvimento e frutos do trabalho social, etc.
  • O País Já Não é Meio Socialista? – Não, Socialismo não é só sobre mais governo – é sobre propriedade e controle democráticos.
  • Pelo Menos o Capitalismo é Livre e Democrático, Né? – Pode parecer que é assim, mas Liberdade e Democracia genuínas não são compatíveis com o Capitalismo.
  • O Socialismo Soa Bem na Teoria, Mas a Natureza Humana Não o Torna Impossível de Se Realizar? – “Nossa natureza compartilhada na verdade nos ajuda a construir e definir os valores de uma sociedade mais justa.”
  • Os Ricos Não Merecem Ficar Com a Maior Parte do Seu Dinheiro?“A riqueza é criada socialmente – a redistribuição apenas permite que mais pessoas aproveitem os frutos do seu trabalho.”
  • Os Socialistas Vão Levar Meus CDs do Calypso? – Socialistas querem um mundo sem Propriedade Privada, não Propriedade Pessoal. Você pode guardar seus discos.
  • O Socialismo Não Termina Sempre em Ditadura? – O Socialismo é muitas vezes misturado com autoritarismo. Mas historicamente, Socialistas tem estado entre os defensores mais convictos da Democracia.
  • O Socialismo Não É Só Um Conceito Ocidental?O Socialismo não é Eurocêntrico por que a lógica do Capital é universal – e a resistência a ela também.
  • E Sobre o Racismo? Os Socialistas Não Se Preocupam Só Com Classe?Na verdade acreditamos que a luta contra o Racismo é central para desfazer o poder da classe dominante. 
  • O Socialismo e o Feminismo Não Entram Às Vezes Em Conflito?Em última análise, os objetivos do Feminismo radical e do Socialismo são os mesmos – Justiça e Igualdade para todas as pessoas.
  • Um Mundo Socialista Não Significaria Só Uma Crise Ambiental Maior Ainda? – “Sob o Socialismo, nós tomaríamos decisões sobre o uso de recursos democraticamente, levando em consideração necessidades e valores humanos, ao invés da maximização dos lucros.
  • Os Socialistas São Pacifistas? Algumas Guerras Não São Justificadas?Socialistas querem erradicar a guerra por que ela é brutal e irracional. Mas nós pensamos que existe uma diferença entre a violência dos oprimidos e a dos opressores. 
  • Por Que os Socialistas Falam Tanto em Trabalhadores?Os trabalhadores estão no coração do sistema capitalista. E é por isso que eles estão no centro da política socialista. 
  • O Socialismo Vai Ser Chato? – “O Socialismo não é sobre induzir uma branda mediocridade. É sobre libertar o potencial criativo de todos.
  • Os Socialistas Querem Tornar Todos Iguais? Querem Acabar Com a Nossa Individualidade?
  • O Marxismo Está Ultrapassado? Ele Só Tinha Algo a Dizer Sobre a Inglaterra do Século XIX, e Olhe Lá?
  • O Marxismo é Uma Ideologia Assassina, Que Só Pode Gerar Miséria? – “O Marxismo é uma ideologia sanguinária e assassina, que só pode gerar miséria compartilhada? Socialismo significa falta de liberdade e uma economia falida?”

Um pensamento sobre “Comunismo Verde Totalmente Automatizado

  1. Um texto que fala de descarbonização e abundância energética, e não defende abertamente a preferência pela energia nuclear, é no mínimo irresponsável. Mesmo com a dita curva tecnologia que a energia e eólica e solar passaram, a única coisa que elas conseguiram é aumentar a dependência dos combustíveis fósseis. Checar o exemplo de descarbonização da França vs. o (suposto)da Alemanha. No mais, assino em baixo.

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