Socialismo digital? O debate do cálculo na Era do Big Data

O desenvolvimento de infraestruturas de avaliação e circuitos de retroalimentação digital oferece oportunidades à esquerda para que proponha melhores processos de descoberta, melhores soluções para a complexidade da organização social em ambientes em rápida transformação e melhores correspondências entre produção e consumo do que a concorrência no mercado e o sistema de preços poderiam fornecer.

por Evgeny Morozov, na New Left Review #116, 2019

Colagem de Philipp Igumnov | Flickr
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De Volta ao Debate Sobre o Planejamento Socialista I – Cálculo, Complexidade e Planejamento

Este artigo oferece uma reavaliação do debate sobre o cálculo socialista e examina até que ponto as conclusões desse debate deveriam ser modificadas sob a luz do desenvolvimento subsequente da teoria e da tecnologia da computação. Após uma introdução às duas principais perspectivas sobre o debate que foram oferecidas até o momento, examinamos o argumento clássico de von Mises contra a possibilidade de cálculo econômico racional sob o socialismo. Discutimos a resposta dada por Oskar Lange, junto dos contra-argumentos à Lange do ponto de vista austríaco. Finalmente, apresentamos o que chamamos de “resposta ausente”, isto é, uma reafirmação do argumento marxiano clássico por um cálculo econômico em termos de tempo de trabalho. Argumentamos que o cálculo por tempo de trabalho pode ser defendido como um procedimento racional, quando complementado por algoritmos que permitam que a escolha dos consumidores guie a alocação de recursos, e que tal cálculo é tecnicamente viável com o tipo de maquinário computacional atualmente disponível no Ocidente, com uma escolha cuidadosa de algoritmos eficientes. Nossa argumentação vai no sentido oposto das discussões recentes sobre planejamento econômico, que continuam afirmando que a tarefa seria de complexidade insolucionável.

Paul Cockshott e Allin Cottrell, 1993 (2004, 2008)

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Montagem baseada em ilustração de C. Arrojo

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Imaginários do Pós-Trabalho: Automação Completa, Renda Básica, Jornada de Trabalho e Ética do Emprego

O objetivo do futuro é o pleno desemprego, para que possamos aproveitar. É por isso que temos de destruir o atual sistema político-econômico”, Arthur C. Clark

por Nick Srnicek e Alex Williams, em ‘Inventing the Future: Postcapitalism and a World Without Work’ [“Inventando o Futuro: Pós-Capitalismo e um Mundo Sem Trabalho”]

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Ilustração de Nathalie Lees para o jornal the Guardian

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Geoengenharia Para o Povo: Todos os Meios que Forem Necessários

Precisamos de uma visão abrangente de reconstrução ecológica – e isso significa ter a geoengenharia como parte de nossa visão.

por Peter Frase, na Revista Jacobin

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Vida Após o Capitalismo [Quatro Futuros – Conclusão]

[“Crise climática”, “mudanças ambientais”, “robôs inteligentes”, “robôs tomando empregos”: os impactos da Crise Climática e de novas tecnologias de Automação de postos de trabalho para o nosso futuro comum vêm sendo cada vez mais discutidos. Se os avanços tecnológicos da “Quarta Revolução Industrial” (em especial em campos como Inteligência Artificial, Robótica avançada, fabricação aditiva, etc) forem o suficiente para automatizarmos a maior parte das atividades que hoje são empregos, reduzindo a um mínimo a necessidade de trabalho humano, a produção de mercadorias através de trabalho assalariado estará superada – e, portanto, estaremos falando do fim do Capitalismo; a questão então é o que virá depois. Será que a possibilidade de toda essa automação é o bastante para garantir que ela vai ocorrer? Qual seria o impacto disso sobre as vidas das pessoas? Como as questões ambientais/climáticas entram nesse quadro? E as relações de propriedade e produção capitalistas e a Política, especificamente a Luta de Classes? Que tipo de cenários podemos esperar à partir do fim do Capitalismo?]

por Peter Frase, em Four Futures: Life After Capitalism [‘Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo’]

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Parte da imagem de capa do áudio cd do livro Four Futures: Life After Capitalism

[Segue abaixo a conclusão do livro de Peter Frase “Four Futures: Life After Capitalism” (‘Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo’)Publicado em 2016, o livro expande as ideias contidas no artigo original de 2011, “Quatro Futuros“. Ambos tentam imaginar as possibilidades de futuro após o fim da produção de mercadorias através de trabalho assalariado e, com isso, do Capitalismo – partindo dos enormes avanços tecnológicos atuais e dos mais prováveis nas próximas décadas e imaginando que, no limite, essas tendências poderiam reduzir a um mínimo ou eliminar a necessidade de trabalho humano. O centro do argumento é que se chegarmos nesse ponto, o aspecto da sociedade vai depender basicamente de dois eixos principais: das futuras condições materiais (escassez ou abundância de recursos naturais e de fontes de energia limpa para os sistemas automatizados) e políticas (mais igualdade ou mais hierarquia, dependendo do sucesso ou do fracasso dos esforços das Esquerdas em domar a desigualdade e as hierarquias da sociedade atual). Da combinação de possibilidades nesses dois eixos temos os quatro futuros que o autor descreve, com o apoio de imagens da ficção científica e buscando as características de cada futuro em aspectos já verificados em nossa sociedade atual: Igualdade e Abundância (“Comunismo”), Igualdade e Escassez (“Socialismo”), Hierarquia e Abundância (“Rentismo”), Hierarquia e Escassez (“Exterminismo”) – basicamente, estamos falando de “dois socialismos” e “duas barbáries”. O livro assume aqui que se tratam de tipos ideais, de versões limites, de horizontes que provavelmente nunca aconteceriam como versões “puras”, mas que mesmo assim valem a reflexão sobre para quais direções estamos caminhando e o que podemos acabar construindo no caminho.

O autor enfatiza que escreveu o livro como uma resposta aos muitos textos e livros que têm surgido com uma visão tecnocrática sobre as consequências da automação, como se ela fosse, por si só, gerar um mundo de mais liberdade e bem-estar para todos. A mensagem é clara: os benefícios esperados não são automáticos, eles dependem de outras variáveis, principalmente dos efeitos das mudanças climáticas e do resultado da luta política no núcleo do Capitalismo (a famosa luta de classes entre os donos dos meios de produção e as pessoas que precisam vender seu tempo de trabalho a eles).

Antes do texto de conclusão, incluímos abaixo os links para os capítulos anteriores do livro.]

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Elon Musk Não é O Futuro

Os dirigentes das grandes empresas de tecnologia estão nessa apenas por eles mesmos, não pelo bem público.

por Paris Marx, em seu Medium (como “As “Inovações” de Elon Musk Não São O Futuro – Elas Estão Nos Atrasando”),
e na Revista Jacobin, Janeiro de 2018

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Comunismo Verde Totalmente Automatizado

[O desafio das mudanças climáticas precisa de uma resposta à altura, que reconheça a sua dimensão, amplitude e a necessidade de mudanças profundas em nossas tecnologias, relações de produção, relações com a natureza, em nosso dia-a-dia e em nossas visões de mundo. Felizmente, depois de décadas de dominação quase absoluta do “realismo capitalista” e de suas propostas vazias de respostas à crise climática via mercado, vai se abrindo o espaço para uma proposta “populista” pela construção de uma alternativa radical que abrace a expansão e a democratização das tecnologias de energias renováveis, robótica fina, inteligência artificial, e produção aditiva como um projeto político a ser disputado, para a construção de uma sociedade focada na sustentabilidade e na socialização da abundância, do lazer, do bem-estar e da maior disponibilidade de tempo para as mais diversas atividades.]

por Aaron Bastani, na Novara Media, Novembro de 2017

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Exterminismo: ‘Solução Final’ Num Futuro Automatizado de Desigualdade e Escassez

[A cada semana somos bombardeados por notícias sobre avanços tecnológicos assombrosos, que prometem diminuir, e muito, a necessidade de trabalho humano nas mais diversas atividades. De fato, podemos imaginar que em algum momento no futuro teremos a necessidade de muito pouco trabalho humano na produção de mercadorias. Mas e se chegarmos nesse ponto ainda divididos entre podres de ricos e “a ralé”? E se os recursos naturais de energia e de matérias-primas não forem o bastante para garantir uma vida luxuriante para todos? E se, do ponto de vista dos abastados, os ex-trabalhadores passarem a representar apenas um “peso inútil”, ou até mesmo, um risco “desnecessário”? No último capítulo sobre possíveis futuros automatizados com o fim do Capitalismo, somos confrontados por uma distopia de desigualdade e crueldade cujas raízes já podemos notar em muitas tendências atuais.]

por Peter Frase, em “Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo” [“Four Futures: Life After Capitalism]

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Rentismo: Um Futuro Automatizado de Abundância Bloqueada Pela Desigualdade

[Na penúltima parte da série sobre possíveis futuros após o fim do Capitalismo, – com o fim do uso de trabalho humano assalariado na produção de mercadorias, extrapolando as tendências atuais de aplicação de tecnologias como Inteligência Artificial, Robótica, Fabricação Aditiva, Nanotecnologia, etc – encaramos uma distopia em que as elites do sistema capitalista atual têm sucesso em manter seus privilégios e poderes, usando patentes e direitos autorais para bloquear e restringir para si o que poderia ser o livre-acesso universal à abundância possibilitada pelas conquistas do conhecimento humano num cenário em que a própria escassez poderia ser deixada para trás.]

por Peter Frase, em “Quatro Futuros: Vida Após o Capitalismo” [“Four Futures: Life After Capitalism]

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Planejando o Bom Antropoceno

O mercado está nos levando cegamente a uma calamidade climática – o planejamento democrático é uma saída.

por Leigh Phillips e Michal Rozworski, na Revista Jacobin, Agosto de 2017

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Ilustração por Sergio Membrillas

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