Como sabemos o que esquerda e direita significam de verdade?

Até a Guerra Fria, o significado de esquerda e direita na política como igualdade versus hierarquia era mais ou menos bem compreendido. Durante a Guerra Fria outros pares de sentidos para essas palavras passaram a circular (mercado versus Estado, indivíduo versus coletivo, governo grande versus pequeno ou igualdade versus liberdade). Testar esses diferentes pares para tentar explicar as posições das pessoas que eram vistas (e se identificavam) como estando à esquerda ou à direita em diferentes momentos históricos é um bom exercício para avaliar quais definições de esquerda e direita se sustentam e quais só servem para causar confusão.

transcrição do podcast What is Politics (“O que é política”)

Imagem criada utilizando a IA Stabled Diffusion

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Como as definições políticas moldam a realidade

As definições dos termos políticos afetam o que enxergamos e o que não vemos no mundo à nossa volta, nos tornando comunicadores e atores políticos mais (ou menos) efetivos. Várias definições populares de esquerda e direita propagadas na mídia e no debate acadêmico (Estado versus mercado, governo grande versus governo pequeno, liberdade versus igualdade) enquadram o mundo em termos de direita, enquanto a definição histórica (hierarquia versus igualdade) enquadra o mundo em termos de esquerda. Veremos porque a última não só é a melhor definição, como também é a definição correta.

transcrição do podcast What is Politics (“O que é política”)

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Planejamento socialista após o colapso da União Soviética – De volta ao debate sobre o planejamento socialista #0

Para muitas pessoas, deve parecer que o colapso da União Soviética (e das economias planificadas do Leste Europeu) teria efetivamente encerrado o debate do cálculo socialista, com um veredito decisivo em favor do mercado. Argumentamos aqui que essa conclusão não se justifica. O socialismo soviético apresentava uma forma específica de planejamento com deficiências próprias, e seu colapso não exclui mecanismos alternativos de planejamento socialista. Neste artigo apontamos algumas das limitações específicas do modelo soviético e oferecemos algumas justificativas para a visão de que existem métodos alternativos de planejamento que são tecnicamente viáveis e potencialmente eficientes e justos.

por Allin Cottrell e W. Paul Cockshott, 1993 [0]

Montagem baseada em ilustração de C. Arrojo
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Comunismo e computadores: uma alternativa democrática para o século XXI

“O modelo proposto pretende mostrar a superioridade de uma economia socialista informatizada em relação ao modo de produção capitalista no plano econômico, por sua maior capacidade de desenvolver as forças produtivas, ao permitir a alocação dos recursos de um modo mais eficiente que o mercado, sem desperdícios materiais, desemprego e crise; e no plano democrático, ao permitir o controle social da produção, orientando o desenvolvimento econômico e social para metas livremente escolhidas pelo conjunto da sociedade, em contraste com a plutocracia capitalista, onde o corpo social está subordinado às exigências de valorização e acumulação de capital.”

por Maxi Nieto Ferrández

em “Ciber-comunismo: planificación económica, computadoras y democracia”,

de Paul Cockshott e Maxi Nieto Ferrández, 2017

Colagem com base em ilustração de M. Chinworth
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Desenvolvimento capitalista: padrões de longo prazo, tendências turbulentas e estruturas ocultas

[As economias capitalistas são caracterizadas por robustos padrões de longo prazo: as trajetórias do produto real, do investimento e da produtividade demonstram que o crescimento tem sido uma característica fundamental desse sistema – essa é a visão à distância, em que a ordem subjacente ao sistema domina a imagem. No entanto, um olhar mais atento sobre esses mesmos padrões mostra que o crescimento do sistema está sempre expresso por meio de flutuações recorrentes, pontuadas por “Grandes Depressões” periódicas – e aí é a desordem, com seus consequentes custos sociais, o que domina a visão. Este artigo tenta demonstrar como esses dois aspectos são inseparáveis, porque nesse sistema a ordem é alcançada por meio da colisão de desordens: é assim que a mão invisível funciona.]

por Anwar Shaikh, em Capitalismo: Competição, Conflitos e Crises

Montagem baseada em colagens de Tyler Hewitt e Alison Kurke | Flickr

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O problema da “natureza humana” ou “essência humana”: uma introdução à Lukács e a ontologia

Resumindo, talvez além do admissível, as investigações acerca da essência humana, poderíamos afirmar que nela encontramos dois grandes momentos: o primeiro, que vai dos gregos até Hegel, e o segundo, de Marx até nossos dias. Se, até Hegel, o problema era descobrir qual o limite das possibilidades de evolução da sociedade a partir da determinação de uma essência a-histórica, com Marx o problema se converte em como transformar a história humana, suas relações sociais predominantes, de modo a transformar a essência humana no sentido de possibilitar o seu pleno desenvolvimento a partir de uma nova relação. Não se trata mais de justificar a dominação da classe representada pelo pensador ao transformar a sociedade de sua época no “fim da história” (Aristóteles e o escravismo, a escolástica e a sociedade feudal, os modernos e Hegel e a sociedade burguesa etc.), mas sim de explorar as possibilidades reais, efetivas, inscritas nas contradições inerentes à ordem presente, para a superação dos estranhamentos nela operantes e evoluir para uma sociedade (ou seja, com as devidas mediações, para uma nova conformação da essência humana) na qual tais estranhamentos não mais possam operar.

por Sérgio Lessa, na Revisa Outubro, Ed. 6 (2001)

Montagem baseada em colagem de John Seven | flickr
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Representando o comportamento individual humano (micro-fundamentos e padrões macro I)

[Não há razão para nos vincularmos ao modelo padrão de comportamento hiper-racional adotado pelas teorias econômicas dominantes, que não descreve o comportamento real dos indivíduos e nem é útil como padrão normativo. As evidências históricas, empíricas e analíticas contra o comportamento hiper-racional e os agentes representativos são esmagadoras. Precisamos entender como os agentes individuais realmente se comportam, como eles realmente reagem às mudanças no ambiente macro e até que ponto, por sua vez, o ambiente é afetado de volta.]

por Anwar Shaikh, em Capitalismo: Competição, Conflitos e Crises

Comportamento individual

montagem baseada em colagem de jufos9 | flickr

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Não, os indivíduos não são máquinas de cálculo racional egoísta

[Ao contrário das representações que as teorias econômicas dominantes fazem do comportamento individual humano e de sua maneira de tomar decisões, os indivíduos são seres altamente imperfeitos — com racionalidade limitada, motivos complexos e conflituosos, credulidade, condicionamento social e até mesmo contradições internas – e isso na verdade faz com que os indivíduos contem mais, e não menos.]

por Ha-Joon Chang

Kollage Kid | Flickr

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Von Mises e sua Praxeologia: Religião, Aristocracia, Racismo e Contradições

A tese defendida no artigo é de que o neoliberalismo de von Mises fundamenta-se em uma filosofia de inspiração religiosa e aristocrática. Defende-se que a teoria de von Mises contém um comprometimento com uma ontologia de dois mundos, inspirada pela filosofia de Tomás de Aquino. Tal ontologia de natureza religiosa ganha caráter secular com o argumento aristocrático, presente em sua teoria da história, sua visão da democracia e do funcionamento dos mercados. Conclui-se que o neoliberalismo de von Mises baseia-se em argumentos da reação feudal à ascensão do capitalismo, com o fim de preservar e justificar este último.

por André Guimarães Augusto, na Revista da SEP, 2016

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